segunda-feira, janeiro 30, 2006

Intervalo maior, uma meia de leite e dois dedos de conversa.

-Dias felizes, aqueles em que ser professor passava exclusivamente pela relação mais ou menos intensa com os seus alunos. Hoje estamos mais atentos, observamos quantas negativas o colega vai dar, não vá eu ser o único a ultrapassar os 50% de negativas.
Que comportamentos!
-À medida que o tempo passa percebe-se que existe um desconforto crescente, mas também um lavar de mãos... Querem que passe 50%? então tomem estes. São os 50% melhores da turma....

-Que andamos a fazer? os tipos estão quase no 12ºano e não sabem nada, espero que não escolham Física senão o Paulo fica lixado.
-Os putos não sabem nada, mandei fazer o mesmo gráfico que demos na aula e mais de metade da turma nem olhou para ele....
-Dei teste ontem. Assinaram e perguntaram-me se podiam sair mais cedo. disse logo que não, que tinham de ali estar até ao fim. Resolveram então fazer as de escolha múltipla e as verdadeiras e falsas.Depois ficaram para li especados a olhar para mim o resto do tempo....
-já pediste?
-não! D. Amélia é uma meia de leite que não tenho tempo para mais.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

FAX - Parte II

Toda a noticia aqui

O Fax -

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Um pedido

Faço um pedido a todos os que por aqui passam para me enviarem fotos das suas escolas. Mais concretamente daquelas coisas absurdas e que nos inquietam. Tenho algumas que estou a organizar. Brevemente aqui.

Esperança e encantamento

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Pib ou pimba?

Pode-se ler no mais recente boletim de propaganda governamental :

De acordo com o relatório Education at a Glance - 2005 , Portugal encontra-se dentro da média dos países da OCDE no que diz respeito aos recursos financeiros e humanos investidos na educação. Quanto aos recursos financeiros, Portugal investe 5,7 por cento do PIB em educação, valor superior à média dos países da OCDE que se situa nos 4,9 por cento.

Não posso deixar de perguntar se os nossos dirigentes (ministros, deputados, etc) também fazem comparações idênticas quando olham para o que recebem mensalmente dos contribuintes - o seu salário e afins. Se é que se pode falar de salario, pois é evidente que é extorsão.

E não lhe chamem nomes como reformas é extorsão, falta de caráter, delapidação. São uns porcos.... (lembram-se do livro... ou do filme...)

Avaliação- notas soltas

A avaliação dos alunos deve ser contínua, dizem. Não discordo mas no que respeita à sua componente formativa. Nesse sentido deve ser descritiva e construtiva. Por isso deve ser contínua. Deverá ser mais qualitativa e menos quantitativa. Deverá privilegiar o progresso do aluno.

No entanto no final de um percurso impõe-se que a avaliação seja sumativa. Quando digo impõe-se sublinho sobretudo a necessidade de o fazer por imperativos de aferição e não por razões legais. Falo da importância de saber se os progressos realizados correspondem às exigências curriculares.

Nesta linha os exames não comprometem ninguém, pelo contrário dignificam o trabalho sério, com objectivos claros e conhecidos por todos.

No entanto é extremamente difícil, na prática, articular a avaliação formativa com a necessidade de atribuir níveis ou classificações. Legalmente apenas a classificação do último período (se a memória não me engana) é considerada sumativa devendo este juízo ser globalizante.

A avaliação formativa serve o aluno mas também o professor devendo este adequar as estratégias de modo a obter (gosto disto pois implica alguma magia, não acham?) os melhores resultados.

Caso não os obtenha o professor é o penalizado. Para começar tem de justificar o fraco rendimento dos alunos, depois planos de recuperação o que leva a mais papel. Papel, papel papel….

No que respeita ao alunos estes não podem ser penalizados por não se ter ainda encontrado uma “cura” para o seu problema. Por isso mesmo devem passar até que um dia descobrem que não estão a fazer nada na escola, já no ensino não obrigatório repetem duas ou três vezes o mesmo ano e retiram-se.

Estou Revoltado -Factos

• Eu tenho 26 horas marcadas no horário.
• Dessas 26 horas 4 não são consideradas lectivas mas eu estou com alunos
• Essas 4 horas não são pagas
• Tenho um horário com "furos" tempos que dificilmente consigo aproveitar e que passo na escola de forma não proveitosa,

Hoje tive alunos para as aulas de recuperação (um nível que não leccionava) e fiz uma substituição de um colega. Quando chegou a hora de ir ter com os meus alunos do 7º ano já estava saturado.
Durante a aula de substituição e a aula de recuperação o trabalho não se tem revelado frutífero.

Esta m.,,, é uma grande palhaçada. Até me esqueço que estou a trabalhar de borla o que me custa engolir é o facto de andar a fazer de conta. Estas horas a mais pesam e têm implicações na qualidade do meu trabalho, na minha disposição e muito sinceramente afectam a minha dignidade. Não andei a tirar uma licenciatura de 5 anos e mais dois de mestrado para aturar esta palhaçada.

Hoje pediram-me para contar as faltas dos alunos das aulas de recuperação - mais trabalho. São cinco turmas, cinco livros de ponto dispersos enfim burocratas. Mas o mais ridículo é pedirem-me que faça um relatório dos progressos dos alunos. Alunos que não conheço e que apenas vi quatro vezes. Não deve ser o professor da disciplina a averiguar se existem progressos? Tenho alunos que estão a faltar às aulas de recuperação (olé) e ficarão excluídos das mesmas. Está na cara que irão chumbar. Mas perderão realmente o ano? Quais as consequências reais para estes alunos?
A Sr.ª Ministra anda de chicote mas um destes dias ainda perde um olho. Não se brincam com coisas sérias.

Lembrar apenas

Lembrar a tortura



segunda-feira, janeiro 23, 2006

Cansado da espera

Agora sim. Nem Sócrates se conteve e atropelou Alegre afirmando lealdade desde já ao PR e reiterando a sua vontade em andar para a frente, a trabalhar. Mas saberá como caminha? Quem atropela assim, numa noite que não era sua, um dos "concorrentes" revela o que é, como age e quais os seus princípios. Justificarão os fins os meios?

O que nos espera, a nós professores, agora que as eleições estão decididas?

domingo, janeiro 22, 2006

Que ganhe o que tiver mais votos













Claro que apenas alguns ambicionam ganhar. Mas mesmo esses têm prazo (felizmente) de validade. Resta sabe se o que cada um pode realmente trazer ao país será mais do que trouxeram durante a campanha.

Uma coisa é certa se algum ganhar à primeira volta e acreditarem em rezas bem podem começar. Este governo está a limpar armas e assim que esta coisa se reolver as medidas mais duras chegarão. Mudanças a nivel dos sector dos transportes públicos (passes sociais, scuts, etc) outras como a carreira docente serão igualmente conhecidas. Segredos mal guardados que aguardam silenciosamente nas gavetas à espera de oportunidade.
Para já fomos entretidos com MIT´s e captações (não de água) mas do chamado investimento estrangeiro.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Sobre Qualidade e qualidades


Não sou perito em qualidade perdoem-me por isso os mais conhecedores.


A qualidade seja do que for, um produto, um serviço ou recurso, passa por avaliar, medir, ponderar. Assim a qualidade de um serviço passa pela sua avaliação e essa deve ser mensurável não havendo lugar para questões de ordem subjectiva. Passa essencialmente por assegurar que o que pode ser controlado o é. Pode assim, um bem, ser avaliado de forma rigorosa e introduzidas melhorias no sistema com vista o alcance de metas e objectivos. Esses objectivos estão objectivamente condicionados pela inovação, que irá distinguir esse bem, e por questões de sobrevivência pela concorrência que se pretende viva.

Esta avaliação é assim realizada com recurso a
normas. Essas normas podem ser um conjunto de procedimentos ou padrões (ou ambos).

A aferição da qualidade de um serviço passa, por isso, pelo respeito pelos procedimentos e normas. Este é o início da certificação e a garantia da credibilidade de um produto. Podemos por isso falar de qualidade apenas quando um produto está certificado.

Posso dar um exemplo simples. Podemos ter em tempos comprado um televisor ou até um automóvel de uma determinada marca e estamos muito satisfeitos. Para além de nos proporcionar tudo o que dele desejamos nunca teve problemas. Achamos que temos um produto de qualidade.

Quando por qualquer razão pensamos em substituí-lo e por muito atraentes que sejam produtos de outras marcas temos mais confiança na marca do nosso. Assim é imprescindível garantir ao cliente que essas características se mantêm e não foram produto do acaso. Chama-se a isto qualidade. Uns até podem não gostar mas o produto apresenta determinadas qualidades e essas estão garantidas.


Quando se fala
qualidade podemos não estar a falar directamente das propriedades intrínsecas de um bem mas do controlo das mesmas. Significa que existem procedimentos que garantem as propriedades em causa. O fim da certificação da qualidade é justamente obter produtos de qualidade intrínseca melhor.

Pensemos no leite por exemplo. Sendo um processo complexo podemos certificar de acordo com determinadas normas uma determinada marca de leite. Significa isso que se amanha existir um determinado problema com um determinado pacote de leite podemos saber qual a vaca que está com problemas ou até onde falhou o processo e porquê introduzindo melhorias no sistema. Nesta perspectiva podemos até garantir que as vacas têm uma determinada alimentação dando ao leite características únicas. No entanto nada me diz que se este leite é melhor que o do vizinho. Essa é uma questão a resolver pela concorrência. O melhor leite é aquele que é preferido em detrimento

A boa qualidade de um produto verifica-se assim por comparação e certificação. Um produto pode ser “bom” ou “mau” mas estar certificado é garantia de que respeita as normas da qualidade.

Como aferir a qualidade de um sistema educativo?

UNICEF e ONU elegem Niterói a melhor em educação no Brasil
O Colégio O Bom Pastor
A BBSI tem uma política de inovação constante

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Monte de Gelo


A avaliação e o ilusinismo

A avaliação, penso eu, está na ordem do dia e diria mesmo que irá estar no centro de toda a discussão no que respeita a educação no presente ano. Por isso os meus textos nas últimas semanas.

A ideia, a minha, é em torno da bitola. Que bitola usar? Mas acima de tudo uma luta para que a bitola seja a mesma para todo o sistema educativo. Não que eu acredite nisso piamente mas como explicarei mais adiante não se podem usar uns critérios para umas coisas e outros para outras só por conveniência. Para avaliar as escolas, os professores e os alunos e até porque não o próprio ME a bitola deve ser a mesma. Sobretudo se a bitola forem os resultados dos alunos. E a este propósito ainda não vi nenhum ministro demitir-se por causa dos constrangedores resultados dos nossos alunos fruto das suas reformas mais politicas que inteligentes.

A este propósito esta semana saíram os resultados dos exames nacionais do 9º ano e a esse propósito transcrevo a notícia do Publico

Outra das conclusões realçadas pelo JNE prende-se com a "grande discrepância" entre a média obtida nos exames nacionais e a média de frequência. Por outras palavras, e tal como acontece no 12.º ano, os alunos têm classificações substancialmente melhores na avaliação que é feita ao longo do ano pelos professores da escola do que na avaliação externa.

E agora tenha-se em atenção a forma como a ministra manipula a importância dos resultados:

Recorde-se que, por se tratar do primeiro ano de aplicação dos exames, a nota contou apenas 25 por cento (e não 30 por cento, como inicialmente previsto) no cálculo da classificação final da disciplina. Para este ano, a questão está ainda em aberto, mas é provável que a tutela mantenha o peso de 25 por cento. "Enquanto não forem conhecidas as conclusões do trabalho de reflexão interna nas escolas, alterar a ponderação serviria apenas para punir indevidamente os alunos", explica fonte do Ministério da Educação.

Ou seja mesmo sem conhecer toda a extensão do problema a ministra revela um relatório que põe em causa todo o ensino da matemática e serve-se desse mesmo argumento para não alterar um dos factores que não pode ser descartado como responsável pelos resultados.

O facto de o exame nacional não pesar de modo significativo na avaliação dos alunos é sem dúvida um elemento que pesa no esforço que os mesmos fazem para obterem bons resultados no exame.

Chama-se a isto ilusionismo.

Quanto aos resultados propriamente ditos sabem todos aqueles que estão minimamente por dentro do que sucedeu que estes exames não podem ser classificados de honestos. Mas isso dava mais umas quantas linhas.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

4-Avaliação dos professores- Instrumento de opressão

O que se pretende é, dizem, implementar um sistema meritocrático. Quem o irá aferir ? Na função pública o mérito confunde-se com ser servil, não com resultados ou qualidade. E não sendo vidente adivinho uma desregulamentação a nível dos direitos dos docentes. Para além de o número de horas da componente lectiva poder ser já regulada pelos órgãos da escola também as justificações de faltas passarão para a alçada dos conselhos executivos assim como muitos outras competências. Chamo a isto distribuir o chicote.

A avaliação dos órgãos de gestão será feita pelos resultados obtidos dando-lhes os instrumentos necessários à sua obtenção. Segue-se a distribuição das cenouras, digo, das vagas para progressão. Estas serão distribuídas pelas melhores escolas agrupadas com base no índice de desenvolvimento social e dentro destas pelos grupos com melhores resultados.

Até parece que funciona. Mas não se esqueçam que os alunos e os pais, parte essencial deste processo ainda não foram chamados à responsabilidade. Não existem formas de conter a indisciplina que é crescente. Ao professor é-lhe pedido que faça o pino e aos alunos que aprendam de forma espontânea.

As responsabilidades das aprendizagens só podem ser pedidas aos docentes quando a outra parte cumpre o que lhe é devido. Um médico não pode ser acusado de o seu paciente não tomar os medicamentos que prescreveu. Um professor não pode nem consegue impingir programas muitas vezes mal elaborados a alunos que não se assumem como tal.

É aqui que tudo falha, é aqui que nasce a revolta de quem todos os dias vive impotente perante a falta de coragem dos nossos políticos.

O ensino diz-se obrigatório, mas apenas é obrigatória a permanência dos alunos. Não se vislumbra nos governos nem nesta ministra a coragem necessária para impor limitações à obtenção da carta de condução a quem não obtenha com sucesso determinado nível de ensino. Não se impõe o serviço militar tornando-o obrigatório a todos aqueles que não obtenham em idade razoável o ensino básico. Seriam medidas polémicas e exigiriam coragem, verdadeira coragem.

3-Avaliação dos professores - O fantasma é bicéfalo

O problema para quem está metido nesta embrulhada é estarem a pedir omeletas quando não há ovos. O grande problema é que de forma indirecta os professores já sentem na pele os efeitos da legislação sobre a avaliação, a dos alunos. A forma como se tem vindo a promover o sucesso nas escolas é degradante. Os professores têm vindo a baixar o nível de exigência de modo a se adequarem a uma realidade incontornável onde 50% de positivas são tacitamente impostas.

É claro que o ministério sabe o que se passa, não se pode esconder o Sol com uma peneira. Qualquer avaliação externa à escola revela as frágeis aprendizagens por isso implementam-se exames apenas com o objectivo de entalar os docentes. Muitos destes exames nacionais não têm quaisquer consequências reais para o aluno e têm servido de festim para a comunicação social e alavanca para as medidas do ministério. Alguns desses exames vêm imbuídos de uma filosofia que não é a implementada nas escolas e não está presente nas orientações programáticas. Os Pisa ou até alguns exames nacionais são uma traição ao árduo trabalho desenvolvido em condições extremamente difíceis por muitos professores. Nada acrescentam nem contribuem para a eficácia do sistema e avaliam objectos e competências que não desenvolvemos nas escolas.

Se os resultados são a medida do sucesso então a mesma bitola deve ser usada para professores e alunos. As regras claras e as metodologias explicitas.

2- Avaliação dos professores - Critérios e argumentos

A questão fulcral para os professores surge com os critérios a utilizar. Para o governo a questão passa sobretudo por moralizar o sistema. Assim será natural e na linha do que vem acontecendo noutras áreas onde o governo tem intervido a homogeneização das regras. À cabeça surge de imediato a progressão por cotas e avaliação por mérito. E se uma surge de uma convicção politica orientada por critérios económicos a segunda será orientada por critérios de gestão de recursos humanos numa perspectiva de promover aqueles que melhor se adaptem ao sistema.

Assim e recorrendo à analogia anterior os melhores jumentos comerão a cenoura e jumentos não faltarão.

Se a progressão por quotas é fundamentalmente uma questão económica e politica é de esperar que num futuro mais ou menos distante estas possam ser alteradas. Já no que diz respeito à avaliação dos professores temo que as regras a adoptar ficarão por muito mais tempo. São essas que importa discutir.

Um dos argumentos mais facilmente desmontáveis no que diz respeito à avaliação do professor é que os resultados não são comparáveis. O ministério já mostrou que é possível introduzindo coeficientes de desenvolvimento económico. Esta avaliação surge já com as escolas onde é possível comparar escolas de todo o país com índices de desenvolvimento idênticos. Não mais poderão os professores alegar que os seus alunos são os piores.

Outro argumento comum é o do cadastro do discente. Este argumento alega que os alunos já chegaram ao professor em mau estado e que a culpa foi dos tais colegas que são uma nódoa.

Para quem anda atento já terá reparado que este argumento, para além de vago e muito subjectivo e de nada acrescentar está já desmontado.

Com a introdução dos projectos de escola e fundamentalmente dos projectos curriculares de turma a par de outras medidas como os planos de recuperação os professores e as escolas detêm os instrumentos necessários à correcção de eventuais desvios nas aprendizagens. A gestão, agora mais flexível da componente não lectiva dos docentes servirá também esse fim. Agora que tanto se protesta sobre essas horas extraordinárias não pagas serão nessa perspectiva muito úteis e desejadas por todos quanto desejam efectivamente bons resultados.

Também a estabilidade do corpo docente contribui para a responsabilização dos professores pelos resultados e que agora têm instrumentos legais para promoverem o sucesso se assim o desejarem. E vão desejar.

Os professores têm pela primeira vez a autonomia, embora aparente, de intervir pedagogicamente da forma que entenderem mais adequada à realidade da sua escola. Seria motivo de orgulho não fosse isso imposto da forma que foi passando por cima de direitos. Não falo de benesses, falo de necessidades. Não podem propor medidas conseguidas à custa do horário de trabalho dos docentes. Quem está financiar estas medidas são os docentes não o ministério. Para além de que estas medidas entram em conflito directo com a qualidade que deve ser proporcionada às turmas atribuídas ao docente. As medidas de flexibilização da componente não lectiva do docente contribuem para a degradação das aulas leccionadas na medida em que o tempo de preparação das mesmas ficou reduzido.

1-Avaliação dos professores - Introdução


Este é um dos aspectos mais polémicos e que maiores receios provoca na classe docente. É na verdade um fantasma que todos conhecem. A sua existência é questionada. Segundo uns existe, segundo outros não. Existe para uns por o professor ter de realizar um relatório onde supostamente avalia o seu desempenho. Caracteriza-se por uma reflexão que se espera lhe fará bem. Não existe para outros porque não tem consequências algumas. Necessita de ser elaborado, entregue nos prazos de Lei e depois…. Progressão.

A ineficácia do sistema é conhecida por todos. Não estou a falar dos resultados obtidos pelos alunos. Estou a falar daquele colega que Já todos tiveram de certeza, o tal que suspeitamos ser mau professor. Mas apenas temos isso, suspeitas. Da sala de aula para dentro ninguém sabe realmente o que se passa. Os comentários dos alunos não são fiáveis mas indiciam o maior ou menor grau de satisfação. Quanto a resultados tudo em conformidade, menos de cinquenta por cento de negativas como manda a lei. Apenas desconfiamos que algo de errado realmente se passa quando existem demasiadas negativas ou positivas. Esse professor revela assim um comportamento atípico que a somar às nossas desconfianças faz dele uma nódoa e de nós o Professor. Esse tal fulano é a excepção que confirma a regra.

No final todos progridem indistintamente.

Existe hoje uma tendência de introduzir um sistema que premeie o mérito. A ideia é simples e penso a imagem de uma cenoura pendurada à frente dos olhos de um jumento com as palas bem postas é a analogia quase perfeita.

Quando falo de fantasma acerca da avaliação de professores esta ideia advém da clara noção que todos temos que esta é extremamente difícil e irá introduzir injustiças que já se verificam no dia a dia do professor mas cujas consequências não vão além dos inconvenientes do dia a dia. Falo do serviço distribuindo. Da forma como essa distribuição é realizada. Falo dos níveis atribuídos, da elaboração de horários, da elaboração de turmas e sua atribuição a determinados professores. Falo das vigilâncias ou melhor da quantidade que cada docente tem de fazer em altura de exames. Falo das salas/laboratórios atribuídos. Falo da resistência em alterar o critério da antiguidade preterindo o pedagógico e mesmo das o da qualificação dos docentes.

Assim falando parece-me correcto introduzir critérios de aferição do desempenho de cada um, quanto mais não seja para uma correcta atribuição de serviço com vista a eficácia e eficiência de uma escola.

Este estado de coisas retira legitimidade a muitos argumentos que têm retardado a introdução de critérios objectivos de avaliação docente.

Actualmente a avaliação está na ordem do dia com o objectivo de regular a progressão na carreira, premiando os melhores e “retendo” os piores. O governo impelido por critérios economicistas está disposto a enfrentar todos com o claro apoio da sociedade. Neste cenário todos tememos que as medidas a tomar sejam claramente penalizadoras já que sejam elas quais forem terão sempre o apoio popular, dos treinadores de bancada, e a oposição dos sindicatos apoiados pelos temores mais obscuros da classe docente.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Reuniões

É curioso, depois do primeiro periodo continuamos nós os professores a pensar em "notas". Não nas notas dos economissitas deste país, mas nas classificações atribuidas aos alunos.
Assim agora seguem-se reunião de C.Pedagógico, depois de Departamento e grupo disciplinar. Entretanto começam as reuniões de Conselho de Turma, para avaliar a implementação do plano de recuperação. Quem tiver seis turmas serão seis as reuniões, para além claro das já mencionadas.

Por agora fico aqui mas voltarei a este assunto é que hoje é quarta feira e já cumpri 7 horas de trabalho efectivo por dia ao serviço da escola na segunda e terça. Por este andar não tenho a componente para trabalho individual...

Mas voltarei

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Treinadores de bancada

Sobre a reorganização dos horários dos professores os comentários dos Treinadores de bancada não se fizeram esperar. Ei mais um comentário à noticia do Público que contém, como já mostrei imprecisões para não dizer erros graves, que depois levam à manipulação da opinião pública.

Transcrevo de seguida o paragrafo da notícia a que me refiro e segue-se o comentário.

"A tutela clarificou ainda as orientações dadas aos conselhos executivos sobre a organização dos horários nos 2º e 3º ciclos, estipulando que os docentes com horário completo, que não beneficiam de uma redução do número de horas de aulas em função da idade e do tempo de serviço, não terão de assegurar aulas de substituição."- Público

A morte anunciada da ministra Por Anónimo, setubal os sindicatos ganharam e os alunos e a qualidade do ensino foram derrotados. Quando apareceu uma ministra a querer mudar as coisas as forças de bloqueio entraram em acção. o primeiro ministro acaba de sacrificar o seu primeiro general...

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Competências e incompetências - Avaliação III

Os actuais alunos do 10º ano são os primeiros alunos submetidos à actual “reforma” do 3º ciclo do ensino básico. Iniciaram à três anos o seu percurso e são, supostamente, o exemplo de alunos que com sucesso completaram o 9º ano de escolaridade.

Mas afinal o que mudou? Que alterações e novidades contêm o actual ensino básico que o anterior não tinha?

Deverá ser certamente melhor que o anterior ensino básico caso contrário não seria justificável mudar. Assim os resultados deverão ser melhores e isso deverá surgir em avaliações, aferidas de forma independente.

Mas vamos ao que mudou. Fundamentalmente e sem ser exaustivo refiro aquelas que me parecem mais relevantes:

  • Aparecimento de áreas curriculares não disciplinares: Área Projecto, Formação Cívica e Estudo acompanhado
  • Os programas não foram suspensos surgindo um documento designado por “Orientações para o ensino básico” onde surgem as competências essenciais e específicas a desenvolver nos alunos no ao longo do ensino básico e em cada disciplina.
  • Remendo de última hora com a introdução da disciplina de TIC.
  • Documentos normativo-legais sobre a avaliação onde a mais recentemente inovação o “50” completa o rol de papeis em que os professores vivem imersos.

Falei aqui em tempos de esquizofrenia no ensino e volto ao assunto pois ele é a causa de muitas das angústias que os professores vivem sem que disso se apercebam.

O documento supostamente orientador e pomposamente designado por “Orientações para o ensino básico” é um manancial de confusões, lapsos e completamente desorientador. É acima de tudo um documento académico pouco interessante do ponto de vista prático e pouco claro em vários aspectos.

É um documento académico porque os seus autores regurgitam durante várias páginas conceitos e ideias que do ponto de vista teórico poderão ter algum significado mas que do ponto de vista orientador da actividade docente são confusos.

É pouco interessante do ponto de vista prático porque não inclui de forma clara os conteúdos a leccionar sendo vago quanto à sua implementação sugerindo, é verdade várias experiências de aprendizagem mas que muitas vezes requerem conceitos não leccionados nem previstos. Colocando o professor sem saber porque ponta lhe pegar.

O tempo para a leccionação dos programas (os mesmos a nível de conteúdos) é inferior. Qual a chave apresentada? O desenvolvimento de competências.

Existe a ideia subjacente e não explicita de o aluno aprender mais em menos tempo( muitos não dirão mais mas sim melhor). Mais porque apesar de não ter de saber de cor um conjunto de informação consultável saberá pesquisar, gerir e raciocinar sobre a mesma.

É suposto o actual ensino não transformar os alunos em depósitos de matéria mas sim desenvolver as suas competências. As tais dez para o ensino básico e mais umas quantas a nível disciplinar mas sempre com o objectivo de os alunos desenvolverem as fundamentais para o EB.

Desta forma é possível dotar os alunos de capacidades de enfrentar problemas e assim apesar de este não ter “recebido a matéria toda” será capaz de responder uma maior diversidade de problemas.

Tudo isto é muito bonito mas teórico. Na prática o professor necessita de uma maior orientação. Não lhe será difícil implementar umas quantas ideias contidas nas orientações mas conseguirá ele avaliar as ditas competências?

De várias sessões de formação a que assisti todas as sugestões esbarram com a realidade. Mais, duvido que alguém e muito menos os autores consigam encontrar instrumentos adequados a cada uma das competências.

São sugeridos vários métodos é certo mas a construção de uma visão integrada do aluno e visto como um todo não se coaduna com as necessidades politicas de aferir de modo mais concreto as aprendizagens.

É aqui que os professores têm de descalçar uma bota que não pediram e o que o sistema se revela esquizofrénico.

terça-feira, janeiro 03, 2006

A comunicação social e o caso Prodep

Não queria voltar a este assunto, pois penso que não se insere nos objectivos delineados por mim para este espaço mas não resisto pois penso que existem razões sérias para isso. Senão veja-se isto. O desconforto provocado pelo sindicato levou à retaliação (ficaram sem financiamento) e esta atitude não teve o relevo merecido. O critério noticioso é dúbio e nebuloso. Percebe-se o desconforto da situação, não se percebe a forma como tudo isto é tratado. A prepotência do ME é extrema e o mais grave tem a cobertura da comunicação social. Que de outra forma podemos entender que na maior parte das vezes vinculem as notas do Ministério da Educação sem qualquer espírito critico revelando uma assaz ignorância sobre os assuntos e por outro lado aspectos como este passam de forma discreta quase sem referência?
Foi assim hoje, mais uma vez, com o inicio do ano escolar com autentica publicidade enganosa na televisão e rádio. As notícias sobre as orientações para a reformulação dos horários dos professores não podiam ser mais enganadoras, no meu caso vi o contrário do que foi anunciado. Basta ler a circular para perceber que não é exactamente como foi vinculado.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Srª Ministra hoje fui à escola e a Srª?

Hoje fui à escola, estive com os meus alunos. Estive também com mais uns quantos que não sei quem eram já que estive a substituir um outro professor. No intervalo maior fui ao meu correio e encontrei o meu novo horário. Mais horas, menos tempo disponível para os meus alunos. Já não tenho muito tempo para preparar as aulas experimentais é-me quase impossível. Agora vou dar aulas de recuperação a alunos do 8º ano e do 9º ano (niveis que não tinha). Lá terei de preparar mais dois níveis e tenho menos tempo para o fazer. Tenho de dividir o tempo disponível entre os meus alunos e os outros. Já agora os outros são alunos irrecuperáveis. Segundo uma colega minha que ainda hoje fez uma aula de substituição nessa turma, "não consegues fazer nada deles" disse-me, "são malcriados, faladores e não atendem a nada"(**).
Srª ministra não sei o que lhe vai na alma mas suspeito que não deve estar bem consigo própria. Só alguém verdadeiramente amargurada e incapaz é capaz de me impor de forma irracional condições de trabalho que tornam impossível um desempenho satisfatório. Sinto a qualidade do que faço a perigar e descambar para a leveza. Uma leveza não sancionada e até promovida por despacho.
Sinto-me cada vez mais desiludido, oprimido, explorado. Verdadeiramente explorado.
Agora uma questão materialista: estas horas vão ser pagas?
Srª Ministra duma coisa pode ter a certeza nunca pronunciarei o seu nome. A não ser que por despacho me obrigue, pois me sinto já um escravo.
A falta de educação e respeito que todas estas medidas reflectem ofendem-me, ofendem todos aqueles que estudaram e todos os dias procuram dar o seu melhor. A Srª está a maltratar uma classe cuja a formação é superior à maioria dos portugueses transmitindo uma imagem ao pais que será entendida como a desqualificação dos que todos os dias se empenham por formar o melhor que sabem o futuro da nação.
Quem me dera ter um dos seus filhos como aluno dir-lhe-ia o que penso da mãe. Estou certo que ele compreederia as minhas razões e a razão da minha revolta. Afinal ainda acredito nas novas gerações, foi isso que 10 anos de ensino me deram. Quanto a si não sei o que a motiva e a torna tão persecutória, intolerante e cega à realidade, mas esteja certa que o perdão é o caminho. Perdoe a quem lhe fez o que fez e verá com certeza um mundo diferente, mais tolerante e empenhado, professores que diariamente lidam com as dificuldades dos outros sempre com um cunho de esperança, sempre com a boa vontade dos que ainda acreditam.

(**)Relato de uma colega cujo o desabafo aqui retrato.

domingo, janeiro 01, 2006

Regresso à componente lectiva

Agora que as "Férias" se acabaram, voltaremos nós os professores às aulas. Ao contacto com os alunos. Amanhã lá terei à minha frente o 10º Ti, o 7ºC etc. Meus queridos alunos, poderemos falar do Natal, da passagem de ano, das prendas que tiveram e de uma ou outra coisita que entretanto no meio das rabanadas preparei. Algumas fichas de trabalho para além de material de apoio, acetatos, apresentação MM sobre as estações do ano e a influência do Sol com material muito bom recolhido no sitio da NASA. O trabalho experimental de 3ª está também já preparado só falta pedir à funcionária, a Dona Amélia, que me faça chegar o carrinho com o material de vidro às salas, com sorte não serei eu a faze-lo. Enfim...férias.
Já agora um bom ano a todos.