sexta-feira, março 31, 2006

Historias do passado

Um colega meu durante o ano de estágio vivia atormentado com a indisciplina que se vivia na sua turma de 8ºano. Certo dia, perto do fim da tarde, uma funcionária bateu-lhe à porta para se queixar que um dos seus alunos lhe tinha acertado com um protector das cadeiras. Era um daqueles protectores de borracha que ficam nos pés das cadeiras. Um aluno tinha-o retirado e atirado em plena aula pela janela fora tendo acertado em cheio na funcionária. Passado alguns minutos a presidente do executivo da escola também lá estava. Logo que entrou dirigiu-se para um aluno que mal sentado olhava com um riso muito salutar para todo aquele circo e lhe disse- senta-te direito e vira-te para a frente. O aluno continuou na mesma posição retorquindo calmamente:-sim senhora.
Depois de pregar cerca de 10 minuto à turma saiu com o toque do final de aula. Na sala de apoio, onde me encontrei com o meu colega como era costume este me contou a história calmamente. Terminou com uma gargalhada dizendo que por este andar qualquer dia tinham de pôr grades entre o professor e alunos e que para os acalmar (os alunos) lhes teria de atirar uns chocolates....também me ri.

Politicamente Incorrecto

É sabido que a maioria do pessoal docente são mulheres e que as mesmas têm assaltado o ensino superior deixando claramente para trás o género complementar. Em terra de cotas e quotas não será de ponderar uma para áreas onde o género feminino abunda... protegendo assim as fronteiras de influencias de cariz sazonal e resguardando legalmente o homem nas suas funções sociais mantendo-o vivo e sem medo da intransigência pseudo-intelectual de esquerda.
Não faltarão argumentos para tal, nomeadamente com o advento das novas familias as ditas monoparentais???? o referêncial masculino tende a diluir-se constituindo o professor do género masculino uma "mais valia" para a educação e formação de tão gentis meninos, os mesmos que abriram a cabeça de uma Srª com mais de 20 anos de serviço numa escola cercada- a do Cerco.

quinta-feira, março 30, 2006

Como os entendo...

Perante os acontecimentos na escola do Cerco no Porto (Publico) onde mais um professor é agredido o que mais me impressiona é a noticia e a forma como antes de um relato dos factos surge a desculpabilização do menor (acentuando-se este facto) perante os seus problemas familiares.
Para ser correcto não é uma desculpa. O que a noticia faz é uma contextualização dos factos. Não foi no Iraque foi no Cerco, não foi um menor qualquer. Foi um rapaz com problemas familiares a viver o insucesso escolar em plena adolescência.
Ninguém procurou saber se a professora perdeu a razão momentos antes da agressão e o acto foi consumado em legitima defesa. Teria sido o contrário? afinal o que aconteceu?

Qualquer idiota percebe que esta é uma escola com problemas, uma das escolas que deveria ser fechada. É uma escola plenamente inserida no seu meio. Nesta escola mesmo no centro do bairro em vez de resolver os problemas existentes acarinha-os. Os problemas do Cerco entraram pela porta da frente na escola e convivem todos os dias com os estranhos (os professores). Os vizinhos que se odeiam estão na mesma sala. Os problemas de ..., p....e outros convivem no bairro como na escola.

Esta escola deveria ser fechada. Os alunos dispersos por escolas do Porto (algumas em vias de fechar e com condições invejáveis) teriam mais oportunidades e acesso a outros mundos que não o do seu bairro cercado por todos os lados pela pobreza, estradas mas com uma escola lá dentro.

quinta-feira, março 23, 2006

terça-feira, março 21, 2006

quarta-feira, março 15, 2006

Tensões


São interessantes estes tempos, os que vivemos em Portugal. A educação tem levado de todo o lado. Não faltam opiniões umas mais avulsas que outras. No entanto o sistema de ensino vive o reflexo disso mesmo no seu dia a dia. A falta de orientação é patente no que respeita ao fim educativo da nossa escola.

Essa é talvez a razão pela qual esta ministra tem o apoio da maioria dos portugueses, em vez de liderar a mudança, a escola reflecte cada vez mais o pior da nossa sociedade.

A luta de Nuno Crato é conhecida, meritória e corajosa não sendo necessário ler o seu livro para perceber do que se trata para tomar uma posição. Não li o livro todo mas conheço alguns excertos e vários artigos do autor.

A posição de Nuno Crato é uma referência. Pelo menos para os que conhecendo as especificidades do ensino e aprendizagem da Matemática percebem como este saber se constrói. Conhecendo o que se passa nas nossas escolas fruto de uma reforma insana e que claramente relega para segundo plano ensino das ciências a posição de Nuno Crato não podia ser outra.

Quem assiste todos os dias ao descambar dos nossos alunos percebe as consequências da medidas tomadas e a responsabilidade de teorias e ideias que classifica de românticas.

As reacções dos promotores destas ideias é inerente a posições pouco fundamentadas e reveladoras de alguma insatisfação ( e isto é histórico) face à ciência e à realidade. Refugiam-se estes em mundos obscuros com terminologias que ninguém percebe nem tem a coragem para perguntar o seu significado sob pena de não perceber também a resposta.


A sua luta corre no entanto um risco: de se barricar numa posição que é a sua, construída por si.

Um erro parece-me no entanto ter sido cometido por Nuno Crato, não que discorde totalmente, mas porque é demasiado ousado: falar da educação no seu todo e não se restringir às especificidades da Matemática.

A posição de Nuno Crato é uma reacção à falta de rigor e completo estripamento da função pedagógica: ensinar.

Nela se ressalvam a importância dos seus actores sem no entanto esquecer que se a escola existe deve ter uma função clara. É essa a única forma de avaliarmos o seu sucesso. Nuno Crato afirma que não pode existir aprendizagem se não existir ensino ao contrário da ênfase dada nos vários mundos da educação que têm tendência para ler a frase na ordem inversa. Saber é a chave para melhor promover a aprendizagem e nessa linha a competência científica sobrepõe-se sem margem para dúvida às competências pedagógica.

Avaliação de professores


Está para breve com certeza a saida do novo estatuto da carreira docente que irá gerir as progressões dos docentes. É este aspecto que está no centro da politica educativa da nossa ministra. Não se trata de uma politica educativa propriamente dita, com ideias concretas sobre o fim e fins da educação do sistema de ensino público, mas de orientações claramente condicionadas por questões de restrição orçamental.
Num primeiro anuncio (sistema de markting politico do actual PM) sabemos que condiconados pelo processo de Bolonha a formação de professores será alterada. O acesso à carreira também surgirá com novos contornos. Mas a questão de fundo fica por esclarecer: como proceder à avaliação dos docentes? Seja para acesso ou para progressão na carreira os critérios devem ser idênticos. Seria inaceitável para uns e para outros que essas difrenças existissem. No entanto todos os docentews na carreira têm uma vaga esperança de que com eles seja diferente.

sábado, março 04, 2006

Os caminhos da politica educativa

Antes de mais quero circunscrever o que expresso ao universo que conheço, escolas secundárias e secundárias com 3º ciclo. Este é um aspecto a ter em conta dado que a idade dos alunos é determinante para o tipo de medidas a adoptar. Basta pensar na autonomia que um aluno do primeiro ano (1ºciclo) tem com a que possui um aluno do 10º ano de escolaridade. Basta pensar no que é aceitável a nível comportamental para um e para outro para perceber que a forma indiferenciada como estes assuntos são tratados revelam a menoridade que a Educação ainda hoje tem em Portugal.

- Sou por princípio contra as aulas de substituição. Esta posição não se prende com qualquer falta de vontade avulsa ou inércia em sair da minha rotina docente. Prende-se com um conceito de Escola, para o qual sinto que o país afinal não está preparado. Este é um país dorido, de luto e há que aceita-lo. A ignorância que povoa a classe dirigente, responsável pelos monstros da actualidade, é resultado de uma educação má. É compreensível por isso, que hoje os portugueses se revoltem contra a face visível da mesma. A minha posição não é no entanto de uma intransigência total, no que concerne as actividades de substituição. Aceito visões diferentes e cá estarei para cumprir o que politicamente se entender mais adequado. Falar em actividades de substituição para alunos do 1º ciclo parece razoável e como pai entendo-as como uma necessidade óbvia. Como professor sei que qualquer actividade deve ser adequadamente preparada evitando que o que é à partida uma vantagem (o acompanhamento) não se torne num mal. Em linguagem corrente diria que mais vale só que mal acompanhado. Mas estou a pronunciar-me sobre um universo desconhecido (1º Ciclo) pelo que não ouso mais.

- A Escola de que falava, ainda que timidamente implementada, existia e trabalhei em mais do que uma vivendo de perto o seu significado e valor. Uma Escola viva e participada. Nessa Escola não é o tempo que conta mas o espaço e as pessoas. Nela existiam aulas de apoio, reconhecidas como tal, onde o professor de apoio recebia as orientações necessárias do professor dos alunos com dificuldades, no final de um período de apoio elaborava um relatório sobre o trabalho desenvolvido identificando necessidades e progressos. Nessa escola existiam clubes apoiados por professores empenhados no que gostavam, fosse a fotografia, o teatro, a literatura, o xadrez ou até a rádio e o jornal da escola. Os alunos não tinham de aparecer ou participar compulsivamente, acima de tudo eram espaços livres onde alunos interessados apareciam e participavam pois sem eles esses espaços não faziam sentido. Quando faltava um professor e o tempo estava bom havia tempo para jogar, conversar ver um filme na biblioteca ou ler uma revista ou um livro. Os alunos não podiam sair livremente da escola sem autorização dos pais. Era uma oportunidade para quebrar rotinas. Quem quisesse podia aparecer nos clubes, trazer um amigo e marcar encontro com o professor para outra oportunidade. Era uma escola de oportunidades, não de obrigações.

- Nas actividades de substituição actualmente existentes tudo é efémero. Ainda que continuem a existir os mesmos espaços (na verdade estes multiplicaram-se) os alunos só aparecem quando obrigados, quando um professor falta e são levados para esses espaços. O trabalho realizado não tem continuidade, dura 45 minutos e sabe-se lá quando voltarão. As aulas de substituição, não são verdadeiras aulas. Pelo menos para todos aqueles que as preparam adequadamente. Introduzem-se elementos estranhos que pertubam metodologias, processos e estratégias contribuindo em alguns aspectos para uma banalização do espaço aula descaracterizando-o.

- As aulas de apoio implementadas por este governo merecem genericamente o apoio de todos. É uma questão de esperança e reconhecimento da capacidade dos professores. Afinal trata-se de mais do mesmo. Mas o problema de fundo não é nem nunca será esse. O problema não está na quantidade mas na qualidade.

A qualidade de um país pode, penso eu, ser aferida pela educação que tem. Embora muitos dos mais evoluídos tenham mais do que um sistema educativo. A rapidez com que o nosso sistema caminha para o descrédito é a mesma com que nos próximos anos veremos proliferar sistemas educativos paralelos. Esses sistemas educativos paralelos já existem e preparam as elites do país. Também aqui o dinheiro faz a diferença.

Para a promoção da qualidade do sistema educativo a solução passa por coisas muito simples. Estou a falar de formação contínua de qualidade, avaliação docente séria, organização eficaz e avaliação objectiva das aprendizagens tudo isto aliado a um sistema educativo suficientemente flexível capaz de se adaptar às flutuações do número de alunos, necessidades formativas do país. Parece fácil mas não é.

quarta-feira, março 01, 2006

A ler


Vale a pena ler, agradeço a nota ao Outròólhar e ajudo a divulgar:

A estes dois acrescento esta notícia do Publico. A fazer fé no que ouvi durante a campanha eleitoral de Sócrates (que andava com um manual de Blair no bolso) estas orientações mais liberais podem significar algo mais do que uma notícia de um pais rodeado de água por todos os lados.
É igualmente merecedora de especial atenção esta coincidência no interesse, que se vem manifestando de algum tempo para cá, por assuntos relacionados com a educação(embora não por todos). Mais concretamente por sistemas educativos de outros paises. Estes assuntos, os da educação, sempre foram atirados por cá para as páginas mais discretas dos jornais.

Avaliem-se, mas todos!

Tornou-se hoje politicamente correcto falar bem da politica desta Ministra da Educação. Quem hoje não dá uma castanhada nos professores não é filho de boa gente.
Eu não dou aulas de substituição. Mas se as tivesse que dar seria a contra-gosto. A minha escola adoptou a criação de espaços pedagogicamente orientados com actividades de substituição. Foi a forma encontrada que melhor respondeu às necessidades dos alunos e que não transforma a actividade docente numa actividade desprestigiante para quem a leva a sério. Porque chamar a esses tempos aulas é uma afronta a quem realmente as dá e as prepara (as aulas). Qualquer pessoa ligada ao ensino percebe a dificuldade em implementar aulas de substituição com beneficio real para os alunos. É preciso não esquecer que já existiam salas de apoio aos alunos interessados.
Esses tempos saem dos horários dos professores, mais concretamente do tempo destinado à preparação das aulas e isso tem um custo real. Estas actividades de substituição poderão beneficiar eventualmente os alunos que ficaram sem professor mas prejudicam os alunos atribuídos ao professor no seu horário.
Mas voltar a esta discussão seria centrar o problema novamente em algo que não é a verdadeira preocupação dos docente: as aulas de substituição. Se essa é hoje a politica a adoptar compete-me a mim como professor implementa-la. Desde que estas sejam consideradas para a contabilização das horas lectivas não há problema. Parece honesto não acha? Mas não é o que acontece.
O insucesso real que é superior aos números conhecidos. A forma como se tem passado para a opinião pública uma imagem falsa denegrindo todos os docentes como alavanca para medidas que na essência não transformarão muito os resultados (reais) é revoltante. Nessa medida quando ouço a forma como outras classes são tratadas pelos media e governo penso logo que as coisas não devem ser bem como estão a contar- a fazer fé no que se passa com os professores. Daí a minha revolta.
Quanto às medidas mais positivas deste ministério não são aferiveis para já pois como as más apenas dentro de uns anos poderemos se assim quiserem avaliar o seu impacto.
Querem resultados? basta que introduzam exames no final de cada ciclo com impacto significativo na classificação dos alunos. Garanto que o Ministério tem mais receio dos exames que os professores.
(Professor do grande Porto devidamente identificado solicitou o anonimato)