sábado, abril 29, 2006

A ministra mexe


Atente-se neste excerto retirado de uma notícia publicada no DN:

Maria de Lurdes Rodrigues não falou em cortes, mas admitiu que a despesa salarial já é muito superior ao desejável: "O último relatório da OCDE frisava aquilo que já é um dado conhecido: o peso dos salários no total do nosso orçamento é de 93%", referiu. "É uma situação distinta de toda a União Europeia e mesmo no espaço da OCDE em que a média ronda os 75%." Em 2005, os salários pagos na esfera do Ministério da Educação corresponderam a cerca de 5 milhões de euros, 58, 4% de todas as remunerações fixas do Estado.

A última frase é a mais importante pois educa quem lê ao explicar que cerca de 60% das remunerações pagas pelo estado são absorvidas na esfera do ME. Dá-se a entender que é necessário reduzir em 18% o peso das remunerações pagas pelo estado e que sendo o ME onde se verifica o grosso da despesa será aí que a qualquer alteração surtirá maior efeito.

A redução de contratados e rentabilização do pessoal é uma forma de reduzir a despesa pelo que o número de horas/homem deverá subir implicando um aumento da carga horária e mecanismos alternativos de substituição de docentes que evitem a contratação temporária.

Outra das medidas a esperar é a implementação da técnica do cão de caça. A ideia é uma perdiz e dez cães de caça. Todos darão o seu melhor para ficar com a perdiz mas apenas um será recompensado. Desta forma a flexibilização de horários, da sua carga e funções docente associadas a uma avaliação “meritocrática” deixará a melhor perdiz a quem estiver na disposição fazer um pouco mais que o seu colega do lado. Tudo isto debaixo do olhar atento de um qualquer peer disposto a relatar os progressos na sua escola.


Gestão de espectativas

A publicação do ECD tarda. A ministra não o divulgará tão cedo ao que parece, pois já durante a próxima semana, ao que se consta, virão a público novidades sobre os horários dos professores. São orientações a ter em conta na organização dos horários no próximo ano lectivo. Como sabemos as aulas de substituição estão aí também para os alunos do secundário. Talvez por isso a chamada de atenção feita pelo sindicato que desta forma alerta para o facto de a ministra ter sido tão celere em divulgar o resultado da seriação dos candidatos a concurso publicando a lista antes do tempo previsto e por outro tenha falhado algo de tão importante como o ECD previsto para o final de Março.

quarta-feira, abril 19, 2006

Os ministros passam o país fica

É curiosa a forma como, nos dias que correm, as notícias nos média sobre as questões educativas são tratadas. Não existe uma investigação de fundo onde se retrate as condições de trabalhos dos professores e alunos por exemplo. No entanto são analisados os resultados e publicitadas as medidas ministeriais como se se conhecessem os problemas a fundo. Esta é a na verdade o sintoma de uma desorientação vivida na Educação em Portugal. Nos actuais objectivos governamentais existe uma obsessão pelos resultados e pela gestão dos recursos. Se relativamente à gestão de recursos a questão pode ser consensual para uma rentabilização dos existentes e eliminação dos desperdícios, já quanto aos resultados estes não se obtêm de um dia para o outro e sem um claro investimento nos seus profissionais e nos meios colocados à disposição. É aqui que uma orientação politica falha por simplesmente não existir. Querem resultados mas não sabem o que querem. Deixam isso para as escolas e para os professores. Relegam essa suprema responsabilidade de definir objectivos e metodologias para os professores e para as escolas. No final até se podem fazer exames nacionais (ou não) para avaliar da competência dos professores. Verifica-se hoje mais do que nunca a necessidade de clarificar o que se pretende do ensino, dos professores e dos alunos; regras claras de avaliação de alunos e professores assim como uma clara aposta na dignificação social do professor e sobretudo confiança nos actores do processo educativo. Esta confiança deve começar no ME revelando-se uma pessoa de bem, de palavra e responsável. Com um ministro que entenda as dificuldades reais e não de alguém que à viva força quer que a realidade seja outra à custa da sua má disposição e de umas frases em diário da república. Os ministros passam os professores ficam.

quinta-feira, abril 06, 2006

Marionetes, ou simplesmente gente simples.


Esta é uma missiva que me foi dada a conhecer por um colega a propósito de um artigo publicado no Jornal de Negócios.
Assim depois de ler a coluna do Senhor Sergio Figueiredo leia-se o comentário do colega que indignado se lhe dirigiu.






Exmº Sr.
Sou professor e o que escreveu na sua coluna sob o titulo "Incapaz, eu me confesso" me ofende profundamente. Sou professor à 10 anos, profissionalizado e do quadro de escola. O que me ofende não é o facto de o Srº exprimir uma opinião que grosso modo é voz corrente nos nosso dias. O que me ofende é o facto de alguém conseguir alcançar uma posição como a sua e não revelar no que escreve conhecimentos, critérios e razões que tal justifiquem. Não lhe escrevo para o ofender mas para lhe lembrar que não obstante existirem maus professores o Srº , conhecedor das questões económicas e de organização empresarial, saberá certamente o peso que uma má organização tem no desempenho de um funcionário. Saberá que a eficiência e produtividade está directamente relacionada com a má gestão e organização e apenas uma parte pode ser imputada ao funcionário. Não gosto da sua analogia com a produção automóvel já que a escola não deve, como já foi, ser encarada segundo esse paradigma. Esse foi-o no século passado e hoje as exigências da sociedade preconizam uma escola diferente. Mas não foi por isso que lhe resolvi escrever mas sim para o informar, já que parece desconhecer, que os professores não são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos dos outros. A educação começa em casa como provavelmente começou a sua. Os professores são na realidade os últimos responsáveis pela educação dos filhos dos outros por muito paradoxal lhe possa parecer. Os professores estão obrigados a um conjunto de procedimentos que os ultrapassam. A revolta que hoje todos os pais vivem ( também eu sou pai) é vivida todos os dias pelos professores, à vários anos, e fruto das mais variadas conversas. Daí este sentimento de injustiça vivido pelos docentes sempre que esta ministra solta um ar da sua graça ou alguém profundamente desconhecedor da realidade opina apenas e só porque também esteve um dia no sistema de ensino. Se existe uma culpa atribuível aos professores esta reside no facto de não nos termos levantado de forma veemente contra as várias reformas educativas que têm atirado as nossas escolas públicas para o mais profundo e escuro fosso. As politicas educativas têm conduzido a este estado de coisas implicam os professores é certo mas não se esqueça que os professores se limitam a pôr em práticas as orientações ministriais. E estas dificultam no terreno a acção dos professores. Não falo apenas nos problemas disciplinares mas a nível da acção pedagógica onde os objectivos educativos são cada vez mais vagos e as dificuldades para a retenção de alunos com problemas é cada vez maior. Esta mistura é explosiva e tem conduzido a um arrastamento ao longo de ciclos de ensino de alunos com os mais variados problemas e sublinho variadados problemas. Quanto às politicas da ministra algumas têm, reconheço, uma raiz séria nos problemas decorrentes da gestão (quase impossível) da maior empresa do país. No entanto conheço o suficiente para lhe dizer que as medidas de apoio educativo implementadas sejam elas as aulas de substituição ou actividades, planos de recuperação ou outros entretanto implementados de nada adiantarão. Estou no terreno e como qualquer professor o que revolta é sabermos como perdemos tempo em coisas que nada adiantarão. As soluções existem e os professores de hoje serão capazes de educar adequadamente os filhos dos outros no que lhes compete não como substitutos da sociedade mas transmitindo e orientando adequadamente nas áreas que cientificamente lhes são reconhecidas. Não tenha a menor dúvida que os primeiros a sofrer com o insucesso são os professores. Não gostamos dos resultados que temos e andamos a falar nisso à anos - não tem ouvido?
cumprimentos,
xxxxxxxxxxxxxxxx
(agradeço que não publique o meu mail)

segunda-feira, abril 03, 2006

Aperitivo


Deixo aqui um boato que corre e que figura em algumas publicações dos sindicatos, pelo que muitos já terão ouvido/lido o mesmo. Existe assim uma ideia que se prepara a regulação do tempo lectivo como uma unidade de 60 minutos. Assim um horário de 22 horas lectivas serão realmente 22 horas lectivas. Porque razão a hora para os professores deve ser de 45minutos? Com este argumento os professores passarão a ter marcados mais 5,5 blocos de 45 min. Isso pode significar mais duas a três turmas....
Será que ninguém percebe que por mais que se queira espremer uma laranja ela dá o sumo que dá e não o que se quer?

A última Ceia


Aproveitem bem, todos aqueles que podem apreciar uns dias de calmia. Não liguem o rádio, não vejam televisão nem leiam revistas ou jornais.
Agora que os concursos terminaram, as últimas reuniões têm lugar nesta semanita e asssim nos preparamos para restaurar forças. Não gosto de me pôr a adivinhar mas tenho um palpite: o estatuto da carreira docente vai apanhar muita gente de "férias". Posso continuar a adivinhar e consigo imaginar as escolas vazias de professores para comentar a "reforma" para revolta de muitos pais trabalhadores. Mas acredito que os canais televisivos irão encontrar alguns professores a banhos no Algarve dispostos a comentar.
Depois desta ser professor nunca mais será o mesmo. Aproveitem por isso a última semana. Como posso estar enganado aproveitem à mesma.