quarta-feira, novembro 30, 2005

Casos - Aulas de substituição


Uma escola do grande Porto foi das poucas a fugir ao esquema das aulas de substituição. Os professores da escola rejeitaram a ideia de que podem ser substituídos. É uma actividade onde a dimensão humana é o fulcro das acções mediadas por si.

Não é no entanto para falar das aulas de substituição que aqui escrevo mas para relatar um caso em que os órgãos directivos da escola implementaram actividades orientadas por professores. Assim não existem aulas de substituição.

Quando um professor falta os alunos são encaminhados para espaços "devidamente" preparados onde professores os aguardam e orientarão actividades. Essas actividades vão desde a Sala de apoio, Biblioteca, Clube de Leitura, Espaços das Ciências, Ludomática, etc. Esses espaços foram preparados pelos diferentes departamentos/grupos disciplinares de modo suprimirem adequadamente as ausências dos professores.

Penso que este modelo é único e vai de encontro às melhores expectativas da comunidade. Não se fica pelo simples entretenimento entre quatro paredes e potenciam-se os espaços e recursos da escola de modo a que quando algum professor falta os alunos tirem algum proveito pedagógico e o docente substituto dignificado através da realização de actividades pedagógicas relevantes e significativas.Até aqui tudo corre bem. O problema surge na implementação.

Quando chega o momento de concretizar esta ideia surgem problemas de difícil resolução e mesmo conflitos de interesse. Passo a expor alguns de modo sucinto.


Existe a necessidade de encaminhar os alunos para os diferentes espaços assim alunos são divididos em grupos previamente estabelecidos com o director de turma e encaminhados por um funcionário que segue as orientações estabelecidas. Consequências:

  • Tempo que decorre durante o encaminhamento dos alunos e início das actividades chega aos 20 minutos;
  • O barulho nos corredores perturba o normal decurso das aulas
  • Os alunos aproveitam para fugir. Apesar de ser obrigatória a sua presença na actividade de substituição de acordo com a lei os alunos teimam em fugir ou simplesmente quando sabem que o professor está a faltar não aparecem na sala de aula para que o funcionário possa proceder ao encaminhamento dos alunos.
  • Verifica-se igualmente uma dificuldade acrescida na marcação de faltas aos alunos já que estes se encontram dispersos por vários espaços. A verificação feita na sala não chega (alguns dos alunos fogem enquanto são encaminhados). Se a verificação das presenças é feita nos espaços onde decorrem as actividades a lista de presenças tem de percorrer nos 20 minutos restantes cerca de 4 espaços diferentes.
  • A ocupação de espaços como a Biblioteca por alunos acompanhados por professores tornou-a inadequada ao fim a que se destina com o aumento do ruído e perturbações causadas pelas movimentações constantes de alunos e professores.
  • A ocupação de espaços como a Biblioteca, auditório, salas de informática (já muito saturadas com a disciplina de TIC) impede a sua utilização por outras turmas em actividades como a de Projecto ou outras de carácter pontual.

De todas para mim o aspecto mais significativo é o conflito existente entre uma actividade que visa colmatar uma ausência de um professor cuja relevância pedagógica/educativa por muito válida que seja será sempre menor que a actividade planeada que um professor pretende realizar com a sua turma nesses espaços.
Uma análise de comportamentos colocaria provavelmente ênfase nas dificuldades sentidas pelos alunos e professores em se adaptarem a novas formas de estar. Mas nem os alunos se sentem respeitados, aparecendo-lhes hoje um professor amanhã outro, nem os professores têm disponibilidade para preparar outras actividades, mais interessantes, com o pouco tempo que já lhes resta para preparar as suas próprias aulas.
Dadas as dificuldades de implementação cai sobre a escola (professores e alunos) a sombra mais fria: as aulas de substituição.

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa é a prova de que o que a ministra disse é para "Inglês" ver.
De medida em medida até à anorexia total.

Parabens

Maria Lisboa disse...

foi o que propus na minha escola ... mas é tão mais fácil ter os "meninos" "presos" numa sala e ser só um professor a deslocar-se, do que andar a "encaminhar" meninos e ter vários profs "presos" por hora.