sexta-feira, dezembro 30, 2005

Resposta ao Zé


  • A propósito será o nosso PM professor? Segundo alguns até podia ser, mas não, não é.

A propósito de Treinadores - Zé Povinho

Em 1875, o genial caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro, retratando a sociedade portuguesa do tempo, cria uma das suas mais conhecidas personagens: O Zé-Povinho. Símbolo do "ignorante, servil, boneicheirão, com a sua albarda e o seu riso soez". Era a imagem da raia-miúda portuguesa (J.Augusto-França), explorada por políticos corruptos e incompetentes. Ainda hoje esta personagem continua a ser evocada, quando se pretende criticar certos comportamentos colectivos estúpidos e alarves face à sociedade e a política. (in acultura )

Treinadores de Bancada













A propósito do artigo do Público sobre os dinheiros do Prodep e a formação contínua os populares manifestam-se de forma inequivoca, revelando um pouco de como é hoje vista a profissão docente. Transcrevo alguns que muito me agradaram:

Grandes sindicatos
Por Anónimo, Porto

Com sindicatos como estes, os professores continuarão a ser considerados preguiçosos, neglicentes, maus profissionais que só aolham aos seus próprios interesses. Já agora, porque é que não estão nas escolas a trabalhar? Estão de férias? Rica vida e nós a pagar para isto! Haja decoro e trabalhem.

Para os nossos professores tudo é pouco

Por R. Figueiredo - Lisboa

Com sucessivos governos a darem aquilo que a maioria não merece, o corporativismo "professores" tem engordado nas suas exigencias. Temos por isso hoje maus professores muito bem pagos . Mas pouco a pouco os corporativismos ir-se-ão autodestruindo, é o seu fim inevitavel. Numa coisa o governo tem culpa, é nas justificações para terminar os privilégios. A justificação não tem de ser na base das dificuldades económicas, mas sim nas da igualdade e no "preço da competência", pagar bem a professores incompetentes é perpetuar o circulo.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Prodep, o dinheiro e as dúvidas

Sobre a atribuição de dinheiros do Prodep o Público tem hoje uma notícia interessante. Sobre a mesma e apenas posso dizer que o ministério na sua breve declaração não esclarece com factos as dúvidas levantadas pelo sindicato. Todos sabemos como este se tem pronunciado ferozmente contra a politica deste ministério e se dúvidas existem o ministério não as dissipa o que é mau. Não chegam as declarações de boas intenções e de imparcialidade era preciso mais. Nomeadamente porque se vai percebendo desde o episódio da greve aos exames e respectiva e duvidosa noção de serviços minimos que quem não está com a ministra está contra ela e esta não se faz de rogada em usar as armas de que dispõe numa atitude de arrogância que revela alguma fragilidade.

Avaliação - Alunos - Parte II


Para compreender a questão da avaliação é necessário compreender como funciona no dia a dia o processo de ensino e aprendizagem. Vou tornar a coisa o mais simples possível e centrar a minha exposição no ensino básico por se tratar do ensino obrigatório, mais propriamente no 3º ciclo, o último.

É aqui que o sistema educativo português começa a revelar a sua esquizofrenia na medida em que o que é solicitado aos professores a nível pedagógico na relação a construir com os seus alunos não é de todo compatível com modelos de avaliação nacionais tipificados e normalizados em versões de exame.

Não é sério pedir aos professores que implementem uma determinada filosofia de ensino centrada em metodologias mais construtivistas e menos centradas nas matérias e usar exames nacionais, normalizados para avaliar o desempenho dos alunos. Não é sério para com os alunos e muito menos para com trabalho desenvolvido pelos professores.

Aqui o ministério (não necessariamente esta ministra) descobriu que podia fazer exames nacionais sem comprometer o futuro dos alunos. Assim temos ao longo do ensino básico várias provas cujo peso não compromete o percurso do aluno mas os seus resultados têm permitido avaliar (julgar) o sistema de ensino. Ou seja supõe-se avaliar o que os alunos aprenderam, de acordo com uma matriz nacional que se tem vindo a diluir com a autonomia das escolas.

Quem não se lembra das orientações para os exames de nono ano onde era suposto o exame abordar sobretudo conteúdos do nono ano? Depois foi descobrir que afinal lá estava todo o programa do 3º Ciclo. Havia claro está uma razão para isto: a autonomia das escolas permite que os conteúdos possam ser geridos de forma diferente assim um determinado conteúdo apresentado aos alunos no 8º ano pode noutra escola aparecer no 9º ano.

Existe aqui no entanto um aspecto caricato. Todas as escolas foram de uma forma mais ou menos tácita obrigadas a gerir os conteúdos da mesma maneira devido ao facto de as editoras dos manuais escolares (todas) terem à medida que a reforma entrava em vigor ano após ano apresentado o manual para esse mesmo ano. Assim quando o 7º ano entrou na reforma os manuais apresentados pelas editoras versavam todos a mesma matéria não se verificando uma proposta completa para o 3º ciclo.

Relativamente às referidas provas e comportamento dos alunos perante as mesmas verifica-se um manifesto desinteresse. Claro está os alunos não nasceram ontem e num mar de permissividade e de falta de rigor quem os consegue motivar para um desempenho à altura das suas capacidades quando o resultado dificilmente interferirá com as classificações já obtidas.

A perversidade vai mais longe e arrisco-me mesmo a dizer que andamos, nós os professores a dormir quando não protestamos com coisas destas e passo a explicar.

Sou professor de Física e Química e o ano passado a alguns alunos já “chumbados” foi-lhes facultado de acordo com a lei a realizar exames nacionais. Assim estes alunos tiveram um exame nacional a todas as disciplinas e uma prova oral. Para além de ter de corrigir a prova escrita tive de realizar e avaliar a prestação oral destes alunos que todos sabemos dificilmente obteriam a aprovação. Afinal tinham acabado de ser avaliados à coisa de uma ou duas semanas. O que teria mudado entretanto que justificasse nova avaliação? Claro está que nada se alterou nem a avaliação tendo obtido quer na prova oral quer na escrita classificações reduzidíssimas. Para meu espanto a estória não terminou aqui e somos todos os professores responsáveis pelas provas realizadas convocados para uma reunião que deveria avaliar as diferentes situações e ponderar a passagem ou não dos referidos alunos. Para maior espanto meu era possível tendo em conta o registo biográfico dos alunos entre outros factores justificar a passagem destes alunos apesar de terem obtido classificações negativas. Andam a gozar com o trabalho dos professores, não acham?

Tudo isto é mais grave quando no final do ano somos obrigados a realizar uma prova global, respectiva matriz com critérios de correcção e mais duas provas idênticas. Claro está nada demais. Mas o peso destas provas é ridículo e mais uma vez os alunos descuram o trabalho não se empenhando para as mesmas e o que é mais grave assinam e fazem umas coisitas para não terem nível um, a única classificação que os poderia comprometer.

O professor para além de ter de preparar as provas e as corrigir tem de aceitar isto como um comportamento normal? No fim vêm os treinadores de bancada dizer que os professores isto e aquilo…

quarta-feira, dezembro 28, 2005

A avaliação - Parte I


A avaliação quer se trate dos alunos, das escolas, dos professores ou do sistema educativo não pode ser visto desarticuladamente. Todos os aspectos estão interligados e não é possível falar seriamente de um sem ponderar e ter em perspectiva os outros.

Avaliar implica ser objectivo e para isso é necessário tê-los. Não podemos olhar para algo e dizer que não gostamos. Isso seria reduzir este importante instrumento do sistema a uma arma de arremesso.

É isso que hoje corre nos media, na cabeça de muitos fazedores de opinião e que ao longo dos últimos meses muito têm magoado os professores. Falo claro está de Miguel Sousa Tavares, do irmão do presidente da República, de Eduardo Prado Coelho assim como de vários outros jornalistas. Todos de modo leviano têm opiniões que entram em ressonância com o desejo oculto de vingança por algum professor que tiveram e que os marcou ou simplesmente por nunca terem tido o professor que desejariam. Não ousaria pensar que desejam inconscientemente que a escola os substitua nos seus deveres como primeiros educadores. Para isso a escola (ainda) não está preparada e seria insensato pensar que essa seria razão da sua fúria.

terça-feira, dezembro 27, 2005

À procura de resultados

Na mais recente publicação ministério da educação podem ler em "Medidas de combate ao insucesso escolar" não uma preocupação com a aprendizagem propriamente dita, mas sim com os resultados:

Em Portugal, todos os anos saem do sistema educativo cerca de 17 mil alunos sem completarem o ensino básico. O resultado acumulado desta situação, ano após ano lectivo, traduz-se na existência de 200 mil jovens com menos de 24 anos sem a escolaridade obrigatória.

e faz um aviso à comunidade:

Atendendo a que a retenção de um aluno deve constituir o último recurso, depois de esgotadas todas as actividades que tenham como objectivo a sua recuperação,

assim,

o Ministério da Educação (ME) vai reforçar, este ano lectivo, as medidas para combater o insucesso escolar e a saída precoce do sistema educativo.

a solução proposta são os planos de recuperação e como se pode ler,

para combater o insucesso escolar e a saída precoce do sistema educativo, o Ministério da Educação deu condições às escolas para que reorganizassem o trabalho escolar de modo a optimizarem as condições de aprendizagem dos alunos do ensino básico.

Do que se conclui que o ministério identificou a razão de ser do insucesso escolar em Portugal: a má organização das escolas e as fracas condições de aprendizagem dos alunos e que estas dependem exclusivamente da escola.

Qual a novidade desta legislação?
A criação de planos de acompanhamento e mais nada.

De resto verifica-se o aumento da burocracia. O que o ministério não explicita de forma clara é que se o aluno tem dificuldades ( ou seja não corresponde às exigências dos programas) devem as escolas gerir os recursos humanos de forma a estes ajudarem os alunos a ultrapassarem as suas dificuldades.

Isto é muito bonito. Mas tem tem implicações a nível do trabalho dos professores: o desenho de planos de recuperação, mais horas nos horários dos professores para a recuperação dos alunos (horas da componente não lectiva). Ora isto compromete a qualidade do trabalho de preparação das aulas e entra, como já demonstrei, em conflicto com os interesses das turmas e respectivos alunos atribuidos aos professores cuja prioridade ninguém pode pôr em causa.

Esta legislação não contempla o caso dos alunos que não trabalham e não se esforçam. Não contempla os alunos que simplesmente aparecem na escola não para aprenderem mas para conviverem.

Qual a resposta para estes alunos? mais do mesmo, mais aulas, mais trabalhos que estes alunos não irão aproveitar, mas que os professores se os quiserem reter terão de promover à custa do seu tempo e trabalho. Trabalho tomado por alunos desfasados, desinteressados e muitas vezes problemáticos.

Resumidamente se um professor pretender reter um aluno irá ter para além de um aumento da burocracia, já de si imensa, trabalho acrescido despendido com alunos não produtivos.
Ora isto constitui um incentivo ao abaixamento da qualidade do ensino com consequências devastadoras para o ensino público e para a credibilidade dos professores do ensino público.

Aqui convém assinalar dois factos:

  • que os professores já vêm de algum tempo a esta parte baixando o nível de exigência para com os seus alunos quer em consequência dos novos programas quer pelo simples facto de os alunos apresentarem cada vez mais dificuldades quando lhes chegam às mãos.
  • Os planos de recuperação sempre foram implementados e em tempos eram mesmo propostos para aulas de apoio devidamente planeadas de modo a suprirem as dificuldades identificadas. Mas apenas eram propostos alunos cuja recuperação fosse possível.
A resposta aos problemas educativos em portugal passa mais uma vez por uma resposta legislativa descontextualizada e que visa obter de uma forma administrativa o sucesso educativo. Não se admirem por isso se daqui a três anos o "sucesso" estatístico estiver na ordem do dia como um dos resultados da governação de Socrates. Pena é que isso nada acrescente à qualificação dos portugueses.

Cuspir na autoridade

Mais um caso nas aulas de substituição, numa escola de Rio Tinto são necessários dois professores para uma das turmas já que os professores se recusam a ir sozinhos. Muitos foram literalmente expulsos à "cuspidela" da sala de aula pela turma toda. Em outras escolas até os professores destacados faltam às aulas de substituição de determinadas turmas, pois a situação é insuportável.
É caso para pedir à Srª Ministra que venha mostrar como se faz e talvez fazer umas das suas graças com estes alunos. Os professores estão sempre dispostos a aprender.

domingo, dezembro 25, 2005

Folheto de propaganda do Ministério da Educação



Agora surge nas escolas um fanzine e respectivo sitio em linha.
Vale a pena ler o editorial e dar uma vista de olhos.
Tudo em http://www.professores.pt/

domingo, dezembro 18, 2005

Escravidão em Portugal



Agora com o art. 50 avizinham-se mais horas na escola. Muitas já avisaram os professores que têm de dar mais duas horas da sua componente não lectiva para actividades de recuperação de alunos.

A componente não lectiva não é um saco sem fundo.

As medidas por muito incontestáveis que possam ser não devem entrar em rota de colisão com os direitos dos professores. Os professores têm direito a ter um horário como qualquer trabalhador. Saber onde começa e onde terminam as suas obrigações e o tempo de serviço. Assim não é possível garantir a qualidade de ensino.

Passo a expor alguns factos que estão na base da minha revolta e também desânimo:

  • Tem sido ao longo destes anos e sempre pela mão de governos PS reduzida a componente não lectiva dos professores e aumentada a carga dos professores. Sim o número de turmas por professor tem aumentado nos últimos anos com a diminuição do número de horas por disciplina. Isso tem implicações na qualidade do ensino. Por um lado os alunos têm uma imensidão de professores e disciplinas por outro representam apenas uma das seis ou sete turmas de um professor e um dos cerca de 230 alunos.

  • Quando o governo passou dos 50 minutos para os 45 minutos disse que os professores tinham de dar esses 5 minutos em falta à escola. Para além da mesquinhez, já que qualquer professor dá mais do que isso aos seus alunos no final das aulas e não são 5 minutos que comprometem o cumprimento dos programas isso contabiliza-se em duas horas de superveniente. A diferença existe no tempo que o professor passa na escola: mais duas horas. Ora isto não passa de uma atitude típica de chico-espertismo como o classificaria de certeza o ainda Presidente da República e não é digno de pessoas de bem.

  • Em consequência da implementação das área curriculares não disciplinares os professores fazem mais reuniões do que nunca, sempre em horários ao fim do dia depois de imensas aulas. Qual a qualidade destas reuniões?

  • As actividades de substituição implicam o contacto com alunos e devem ser consideradas lectivas e pagas ou integradas no horário do professor. É aqui que o governo se revela pleno de demagogia. Não pagando estas horas e até lhe tendo escapado coisas como “fazer graças” é óbvio que não é na qualidade desses tempos que está preocupado mas na demagogia e populismo das medidas. Se fosse sério e desejasse a qualidade desses tempos faria de outra forma.

Será que ninguém vê isto? Será pura ignorância ou a demagogia populista deste governo é tal que não se importa de comprometer o ensino público?

Actividades de substituição


Vamos admitir que é consensual a existência de actividades obrigatórias de substituição. Sim obrigatórias, para os alunos.É disso que falo, não são de livre frequência, os alunos têm de ir às actividades planeadas caso falte o seu professor.

Ainda que existam escolas que se furtaram ao modelo das aulas de substituição essas actividades têm sido de difícil implementação e não cabe aqui discutir as razões ainda que fosse pertinente faze-lo. Importa sim explicar, denunciar o que realmente se passa:

  • As actividades de substituição sejam as famosas aulas de substituição ou outras actividades como clubes ou outras são realizadas por professores que ficam de plantão para a eventualidade de um professor de uma turma faltar.
  • O tempo que esse professor disponibiliza é o da sua componente não lectiva roubando por isso tempo à planificação das aulas, acompanhamento e avaliação das turmas que efectivamente estão sobre sua alçada. Existe por isso um conflito de interesses: o dos alunos a quem o professor garante as actividades de substituição e o dos seus alunos cuja responsabilidade foi assumiu.
  • As actividades de substituição por muito valor que tenham não substituem na verdade o acompanhamento dado pelo professor da disciplina. Apenas ele sabe o estado das coisas, as necessidades individuais. Apenas ele conhece o projecto curricular de turma. De outro modo estamos a falar de entretimento e não é para isso que o estado paga a pessoas qualificadas. Temos gente com mestrados a entreter alunos e isto é desrespeito pelas qualificações e anos de muito estudo que muitos profissionais dedicaram ao seu desenvolvimento profissional. Não me venham com histórias sobre a dignidade da tutela de alunos pois não é disso que se fala. A tutela é outra coisa Srª ministra.
  • Ainda que as actividades de substituição surjam como complemento exigirá sempre a preparação e organização dos professores e da escola de modo a tornar útil esses tempos. Ora isso exige tempo, mais tempo para preparar materiais, concertar estratégias, escalar professores, coligir informação etc., etc. Esse tempo virá da componente não lectiva dos professores, o tal roubado aos seus alunos e às necessidades especificas para preparação das suas aulas.
  • Não nos podemos esquecer que estamos a meio da implementação de novos programas com diferentes exigências e que exigem mais pre-preparação, reflexão e trabalho, muito trabalho no desenvolvimento de materiais didácticos. Exigem serenidade, sensatez e tempo. Talvez por isso este seja o tipo de materiais usados em aulas de substituição e por este andar será também o usado nas aulas, pois começa a escassear tempo para fazer as coisas bem feitas.
O desânimo é grande. Temos professores com falta de tempo para preparar convenientemente as suas aulas e no entanto passam boa parte dele na escola. É frustrante. Por vezes acompanhando alunos que não conhecem e com a cabeça no que precisavam de fazer e outras sem fazer nada, de plantão, e sem condições para preparar as suas aulas.

sábado, dezembro 17, 2005

O que a ministra da Educação não percebe

23-11-2005
Ninguém de bom senso questiona a necessidade de ocupar de forma útil os alunos a quem faltam professores. Só os insanos rejeitariam como importante o objectivo de diminuir a frequência com que essas situações acontecem... Por Santana Castilho
1. No Liceu Nacional de Diogo Gouveia, em Beja, em 1953, sempre que um professor faltava, eu não podia sair da sala sem que o sr. Vieira ou o sr. Gil o permitissem. O sr. Vieira ou o sr. Gil, diligentes contínuos (assim se chamavam os "auxiliares educativos" de então), antes de darem a almejada ordem libertadora, certificavam-se, na sala de professores, se havia algum docente escalado, nesse momento, para dar a "aula de substituição". Era assim, há 52 anos, no recôndito Alentejo, num liceu de instalações magníficas, com condições de trabalho ímpares, médico escolar diário (o saudoso dr. Flávio dos Santos) e outros recursos que seriam ainda hoje considerados luxuosos, se cotejados com a penúria de tantas escolas do Portugal democrático. Saudosismo? Não! Memória, que falta a muitos dos que hoje falam como se fossem únicos e acabassem de descobrir a solução para endireitar o mundo. Ninguém de bom senso questiona a necessidade de ocupar de forma útil os alunos a quem faltam professores. Só os insanos rejeitariam como importante o objectivo de diminuir a frequência com que essas situações acontecem. Mas "aulas de substituição", para o serem, carecem de um docente da mesma área disciplinar, previamente avisado (e isso nem sempre é possível ) e conhecedor da fase didáctica em processo. Um professor de Português não poderá, naturalmente, substituir o colega de Matemática. As coisas não se passam como a ministra da Educação as imagina quando teve a infelicidade de, a propósito, interrogar: "Quantos professores de Português não gostariam de ir à escola de 1º ciclo ler poesia ou fazer umas graças?..."Quanto a actividades de recurso, para ocupar alunos, são outra coisa e até lá cabem palhaços que façam umas graças. Mas podem ser organizadas sem práticas escabrosas e imposições ridículas, que perturbam a vida das escolas e avacalham o exercício da docência. Foi disso que os professores reclamaram na greve de sexta-feira. Mas a ministra da Educação não percebeu.
2. No dia em que os professores fizeram greve, o Ministério da Educação tornou público o número de faltas dadas pelos docentes no ano lectivo passado. Foi uma iniciativa infeliz, eticamente reprovável. Porque visou denegrir junto da opinião pública, uma vez mais, a imagem dos professores. E, se dúvidas houvesse, lá estão declarações expressas da ministra: "Esta é a altura em que o país precisa de saber os factos..." Que factos? Segundo o Ministério da Educação, os professores terão faltado a cerca de 8 milhões de horas em cerca de 80 milhões possíveis, isto é, cerca de 10 por cento de faltas. Assim dito, tantos milhões esmagam. Assim apresentados, com a alusão à "altura em que o país precisa de saber os factos", fica escancarada a porta da demagogia e do populismo: malandros, a furtarem-se ao trabalho! Ajudemos então a perceber os "factos". Não se terão enganado nas contas? Há quem conte 150 milhões de aulas, o que reduz para metade a percentagem das faltas. Eu sei que cerca de 85 por cento dos professores são professoras. Quantas dessas faltas foram por parto? É que os meses de licença de parto, que certamente a ministra da Educação não quer abolir, têm um efeito demolidor nas conclusões estatísticas (se meio país comer um bife de lombo diariamente e o outro meio falir de inanição, os espertalhões da estatística poderão dizer que todos comem bife dia sim, dia não). Eu sei que metade do corpo docente está na última fase da carreira, envelhecida. Que impacte terá isso no absentismo? E o afastamento da residência? E são faltas ou são aulas não dadas, que é coisa diferente, por englobar razões não imputáveis aos professores? E se todas as faltas foram dadas ao abrigo de legislação feita por políticos, por que não censurá-los a eles e mudar o sistema?
Qualquer gestor de recursos humanos sensato e competente compreenderia que a questão era nada quanto a insinuar a malandrice dos colaboradores e tudo quanto a responder às duas questões cruciais: por que faltarão eles? Que deve ser feito para que faltem menos? Mas a ministra da Educação não percebe.
3. A ministra da Educação parece ter uma particular atracção pelo afrontamento gratuito e pela instalação da instabilidade no sistema. Resolveu mexer na política dos manuais escolares, politizando uma questão que era técnica. Ao mandar para a Assembleia da República o que até agora era tratado pelos governos, não percebeu que accionou irremediavelmente o "complicómetro". Ao instituir a censura prévia com a sua corte de sábios para dizer quem edita e quem não edita, não percebeu que pode estar a "franchisar" a corrupção. Ao desprezar arrogantemente os parceiros sociais, como é seu hábito, não percebeu que pode ter que editar sozinha os livros de que necessita. Ao sujeitar os preços a regime tabelado, não percebeu que o mundo se move em sentido inverso.
A ministra da Educação tem vários problemas, que a tornam cada dia menos desejável para o cargo. São todos eles problemas de percepção da realidade. Não sei se por ignorância intrínseca, se por obliteração socrática.
Santana Castilho - professor do Ensino Superior (Público , 22.11.2005)
Fonte

Aulas de substituição

Temos agora aqui um exemplar usando em aulas de substituição numa escola. Importa esclarecer aos menos atentos que o material aqui revelado visa "entreter" alunos cujo professor faltou. Assim e de acordo com as medidas legais adoptadas pelos homens e mulheres que detêm o poder nessas situações deverá estar de plantão outro professor que o possa substituir de modo a orientar actividades com esses alunos.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Concursos de professores

Parabéns ao SPZN que apresenta no seu sitio os documentos relativos às negociações em curso.

Documentos em formato pdf.

Memorando do ME

terça-feira, dezembro 13, 2005

Desgovernado

Avaliação de professores - notícias e conjecturas

Está á vista a forma como a avaliação de professores se processará. Basta consultar o sitio da IGE para perceber a filosofia subjacente á avaliação, métodos e intenções.
A este respeito voltarei mais tarde.

Sindicatos e a clandestinidade

Sobre a forma como os documentos não são divulgados ficando no segredo do ministério e sindicatos uma carta a um sindicato:

"Penso que seria, numa altura em que tão polémicas são as propostas do ministério da educação, a disponibilização dos documentos em discussão.Essa nuvem suspeita, a clandestinidade em decorrem as negociações entresindicatos e ministério não auguram nada de bom no que diz respeito à credibilidade dos sindicatos junto dos professores. Os professores o que sabem vem nos jornais, não pode ser aferido lendo as propostas concretas do ministério. Urge perguntar o que afinal se passa: o que escondem os sindicatos dos professores? não desejam força negocial?É importante ser transparente. Nos tempos que correm, da era da informação nunca tão pouco credível foi. Muitos boatos, muita desinformação e nisto o ministério tem gerido muito bem a comunicação social. Penso que é obrigação dos sindicatos divulgar as propostas e sublimnho divulgar.É igualmente urgente preparar terreno para o que aí vem: estatuto da carreira docente. Contra atacar divulgando e comunicando ao publico da comunicação social as consequências das acções nazistas deste governo.Não podemos deixar que estas mentiras se transformem em verdades. Não podemos deixar de desmontar o que o ministério faz e diz: pois diz e faz o que o "povo" julga ser correcto.Enfim... a responsabilidade é vossa também, mas apenas perante os professores."

As "verdades"

Nunca como hoje se procura a verdade. Politicos houve que como visionários tinham um saber divino e tomavam decisões. Essas decisões colocaram o nosso país à beira do abismo segundo dizem. Hoje temos politicos responsáveis. Recorrem a estudos cuidadosamente encomendados. Os seus resultados são divulgados na comunicação social mesmo a tempo de informarem a opinião pública. Foi assim com a questão das faltas a quando da greve dos professores, foi agora acerca da mobilidade dos professores.

As verdades agora expostas como feridas a céu aberto magoam a quem todos os dias vive os problemas do quotidiano na sua escola. Se à dois anos atrás a ministra da educação entrasse numa sala de professores (que não do ensino superior) com um pequeno bloco de notas não necessitava sequer de questionar os professores sobre os problemas e insucessos do sistema educativo português no que diz respeito à sua dimensão pedagógica-instrutiva-formadora.

Essa oportunidade passou. A Senhora ministra dificilmente será bem vinda numa qualquer escola deste país, mas se puder entrar sem ser vista coraria de certeza com os comentários, não a seu respeito, mas a respeito das medidas demagógicas que tem vindo a tomar.

Qualquer debiloide, para usar um termo mais do que infeliz de um fazedor de opiniões pago para isso (penso eu) sabe a o resultado previsto destas medidas.

Um aviso à comunidade em geral: estas medidas terão consequências na motivação dos professores. E esta é uma actividade cuja dimensão animica e humana são o fulcro das aprendizagens.

Agora os professores dedicados que asseguram o funcionamento das escola além imcompetências do ministério pensarão duas vezes antes de agir.

Por exemplo corrigir um teste sem que o ministério me pague a caneta vermelha, não.
Sair em visitas de estudo além do horário docente obrigatório, não.
Fazer testes no meu computador e imprimi-los na minha impressora com o meu papel, não.
Telefonar de casa à noite para entrar em contacto com o encarregado de educação x a meu custo e do meu telefone, não.
Dizer bom dia à ministra, não. Dizer adeus à minsitra, sim.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Humor




quarta-feira, novembro 30, 2005

Casos - Aulas de substituição


Uma escola do grande Porto foi das poucas a fugir ao esquema das aulas de substituição. Os professores da escola rejeitaram a ideia de que podem ser substituídos. É uma actividade onde a dimensão humana é o fulcro das acções mediadas por si.

Não é no entanto para falar das aulas de substituição que aqui escrevo mas para relatar um caso em que os órgãos directivos da escola implementaram actividades orientadas por professores. Assim não existem aulas de substituição.

Quando um professor falta os alunos são encaminhados para espaços "devidamente" preparados onde professores os aguardam e orientarão actividades. Essas actividades vão desde a Sala de apoio, Biblioteca, Clube de Leitura, Espaços das Ciências, Ludomática, etc. Esses espaços foram preparados pelos diferentes departamentos/grupos disciplinares de modo suprimirem adequadamente as ausências dos professores.

Penso que este modelo é único e vai de encontro às melhores expectativas da comunidade. Não se fica pelo simples entretenimento entre quatro paredes e potenciam-se os espaços e recursos da escola de modo a que quando algum professor falta os alunos tirem algum proveito pedagógico e o docente substituto dignificado através da realização de actividades pedagógicas relevantes e significativas.Até aqui tudo corre bem. O problema surge na implementação.

Quando chega o momento de concretizar esta ideia surgem problemas de difícil resolução e mesmo conflitos de interesse. Passo a expor alguns de modo sucinto.


Existe a necessidade de encaminhar os alunos para os diferentes espaços assim alunos são divididos em grupos previamente estabelecidos com o director de turma e encaminhados por um funcionário que segue as orientações estabelecidas. Consequências:

  • Tempo que decorre durante o encaminhamento dos alunos e início das actividades chega aos 20 minutos;
  • O barulho nos corredores perturba o normal decurso das aulas
  • Os alunos aproveitam para fugir. Apesar de ser obrigatória a sua presença na actividade de substituição de acordo com a lei os alunos teimam em fugir ou simplesmente quando sabem que o professor está a faltar não aparecem na sala de aula para que o funcionário possa proceder ao encaminhamento dos alunos.
  • Verifica-se igualmente uma dificuldade acrescida na marcação de faltas aos alunos já que estes se encontram dispersos por vários espaços. A verificação feita na sala não chega (alguns dos alunos fogem enquanto são encaminhados). Se a verificação das presenças é feita nos espaços onde decorrem as actividades a lista de presenças tem de percorrer nos 20 minutos restantes cerca de 4 espaços diferentes.
  • A ocupação de espaços como a Biblioteca por alunos acompanhados por professores tornou-a inadequada ao fim a que se destina com o aumento do ruído e perturbações causadas pelas movimentações constantes de alunos e professores.
  • A ocupação de espaços como a Biblioteca, auditório, salas de informática (já muito saturadas com a disciplina de TIC) impede a sua utilização por outras turmas em actividades como a de Projecto ou outras de carácter pontual.

De todas para mim o aspecto mais significativo é o conflito existente entre uma actividade que visa colmatar uma ausência de um professor cuja relevância pedagógica/educativa por muito válida que seja será sempre menor que a actividade planeada que um professor pretende realizar com a sua turma nesses espaços.
Uma análise de comportamentos colocaria provavelmente ênfase nas dificuldades sentidas pelos alunos e professores em se adaptarem a novas formas de estar. Mas nem os alunos se sentem respeitados, aparecendo-lhes hoje um professor amanhã outro, nem os professores têm disponibilidade para preparar outras actividades, mais interessantes, com o pouco tempo que já lhes resta para preparar as suas próprias aulas.
Dadas as dificuldades de implementação cai sobre a escola (professores e alunos) a sombra mais fria: as aulas de substituição.