quinta-feira, abril 06, 2006

Marionetes, ou simplesmente gente simples.


Esta é uma missiva que me foi dada a conhecer por um colega a propósito de um artigo publicado no Jornal de Negócios.
Assim depois de ler a coluna do Senhor Sergio Figueiredo leia-se o comentário do colega que indignado se lhe dirigiu.






Exmº Sr.
Sou professor e o que escreveu na sua coluna sob o titulo "Incapaz, eu me confesso" me ofende profundamente. Sou professor à 10 anos, profissionalizado e do quadro de escola. O que me ofende não é o facto de o Srº exprimir uma opinião que grosso modo é voz corrente nos nosso dias. O que me ofende é o facto de alguém conseguir alcançar uma posição como a sua e não revelar no que escreve conhecimentos, critérios e razões que tal justifiquem. Não lhe escrevo para o ofender mas para lhe lembrar que não obstante existirem maus professores o Srº , conhecedor das questões económicas e de organização empresarial, saberá certamente o peso que uma má organização tem no desempenho de um funcionário. Saberá que a eficiência e produtividade está directamente relacionada com a má gestão e organização e apenas uma parte pode ser imputada ao funcionário. Não gosto da sua analogia com a produção automóvel já que a escola não deve, como já foi, ser encarada segundo esse paradigma. Esse foi-o no século passado e hoje as exigências da sociedade preconizam uma escola diferente. Mas não foi por isso que lhe resolvi escrever mas sim para o informar, já que parece desconhecer, que os professores não são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos dos outros. A educação começa em casa como provavelmente começou a sua. Os professores são na realidade os últimos responsáveis pela educação dos filhos dos outros por muito paradoxal lhe possa parecer. Os professores estão obrigados a um conjunto de procedimentos que os ultrapassam. A revolta que hoje todos os pais vivem ( também eu sou pai) é vivida todos os dias pelos professores, à vários anos, e fruto das mais variadas conversas. Daí este sentimento de injustiça vivido pelos docentes sempre que esta ministra solta um ar da sua graça ou alguém profundamente desconhecedor da realidade opina apenas e só porque também esteve um dia no sistema de ensino. Se existe uma culpa atribuível aos professores esta reside no facto de não nos termos levantado de forma veemente contra as várias reformas educativas que têm atirado as nossas escolas públicas para o mais profundo e escuro fosso. As politicas educativas têm conduzido a este estado de coisas implicam os professores é certo mas não se esqueça que os professores se limitam a pôr em práticas as orientações ministriais. E estas dificultam no terreno a acção dos professores. Não falo apenas nos problemas disciplinares mas a nível da acção pedagógica onde os objectivos educativos são cada vez mais vagos e as dificuldades para a retenção de alunos com problemas é cada vez maior. Esta mistura é explosiva e tem conduzido a um arrastamento ao longo de ciclos de ensino de alunos com os mais variados problemas e sublinho variadados problemas. Quanto às politicas da ministra algumas têm, reconheço, uma raiz séria nos problemas decorrentes da gestão (quase impossível) da maior empresa do país. No entanto conheço o suficiente para lhe dizer que as medidas de apoio educativo implementadas sejam elas as aulas de substituição ou actividades, planos de recuperação ou outros entretanto implementados de nada adiantarão. Estou no terreno e como qualquer professor o que revolta é sabermos como perdemos tempo em coisas que nada adiantarão. As soluções existem e os professores de hoje serão capazes de educar adequadamente os filhos dos outros no que lhes compete não como substitutos da sociedade mas transmitindo e orientando adequadamente nas áreas que cientificamente lhes são reconhecidas. Não tenha a menor dúvida que os primeiros a sofrer com o insucesso são os professores. Não gostamos dos resultados que temos e andamos a falar nisso à anos - não tem ouvido?
cumprimentos,
xxxxxxxxxxxxxxxx
(agradeço que não publique o meu mail)

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