sábado, março 04, 2006

Os caminhos da politica educativa

Antes de mais quero circunscrever o que expresso ao universo que conheço, escolas secundárias e secundárias com 3º ciclo. Este é um aspecto a ter em conta dado que a idade dos alunos é determinante para o tipo de medidas a adoptar. Basta pensar na autonomia que um aluno do primeiro ano (1ºciclo) tem com a que possui um aluno do 10º ano de escolaridade. Basta pensar no que é aceitável a nível comportamental para um e para outro para perceber que a forma indiferenciada como estes assuntos são tratados revelam a menoridade que a Educação ainda hoje tem em Portugal.

- Sou por princípio contra as aulas de substituição. Esta posição não se prende com qualquer falta de vontade avulsa ou inércia em sair da minha rotina docente. Prende-se com um conceito de Escola, para o qual sinto que o país afinal não está preparado. Este é um país dorido, de luto e há que aceita-lo. A ignorância que povoa a classe dirigente, responsável pelos monstros da actualidade, é resultado de uma educação má. É compreensível por isso, que hoje os portugueses se revoltem contra a face visível da mesma. A minha posição não é no entanto de uma intransigência total, no que concerne as actividades de substituição. Aceito visões diferentes e cá estarei para cumprir o que politicamente se entender mais adequado. Falar em actividades de substituição para alunos do 1º ciclo parece razoável e como pai entendo-as como uma necessidade óbvia. Como professor sei que qualquer actividade deve ser adequadamente preparada evitando que o que é à partida uma vantagem (o acompanhamento) não se torne num mal. Em linguagem corrente diria que mais vale só que mal acompanhado. Mas estou a pronunciar-me sobre um universo desconhecido (1º Ciclo) pelo que não ouso mais.

- A Escola de que falava, ainda que timidamente implementada, existia e trabalhei em mais do que uma vivendo de perto o seu significado e valor. Uma Escola viva e participada. Nessa Escola não é o tempo que conta mas o espaço e as pessoas. Nela existiam aulas de apoio, reconhecidas como tal, onde o professor de apoio recebia as orientações necessárias do professor dos alunos com dificuldades, no final de um período de apoio elaborava um relatório sobre o trabalho desenvolvido identificando necessidades e progressos. Nessa escola existiam clubes apoiados por professores empenhados no que gostavam, fosse a fotografia, o teatro, a literatura, o xadrez ou até a rádio e o jornal da escola. Os alunos não tinham de aparecer ou participar compulsivamente, acima de tudo eram espaços livres onde alunos interessados apareciam e participavam pois sem eles esses espaços não faziam sentido. Quando faltava um professor e o tempo estava bom havia tempo para jogar, conversar ver um filme na biblioteca ou ler uma revista ou um livro. Os alunos não podiam sair livremente da escola sem autorização dos pais. Era uma oportunidade para quebrar rotinas. Quem quisesse podia aparecer nos clubes, trazer um amigo e marcar encontro com o professor para outra oportunidade. Era uma escola de oportunidades, não de obrigações.

- Nas actividades de substituição actualmente existentes tudo é efémero. Ainda que continuem a existir os mesmos espaços (na verdade estes multiplicaram-se) os alunos só aparecem quando obrigados, quando um professor falta e são levados para esses espaços. O trabalho realizado não tem continuidade, dura 45 minutos e sabe-se lá quando voltarão. As aulas de substituição, não são verdadeiras aulas. Pelo menos para todos aqueles que as preparam adequadamente. Introduzem-se elementos estranhos que pertubam metodologias, processos e estratégias contribuindo em alguns aspectos para uma banalização do espaço aula descaracterizando-o.

- As aulas de apoio implementadas por este governo merecem genericamente o apoio de todos. É uma questão de esperança e reconhecimento da capacidade dos professores. Afinal trata-se de mais do mesmo. Mas o problema de fundo não é nem nunca será esse. O problema não está na quantidade mas na qualidade.

A qualidade de um país pode, penso eu, ser aferida pela educação que tem. Embora muitos dos mais evoluídos tenham mais do que um sistema educativo. A rapidez com que o nosso sistema caminha para o descrédito é a mesma com que nos próximos anos veremos proliferar sistemas educativos paralelos. Esses sistemas educativos paralelos já existem e preparam as elites do país. Também aqui o dinheiro faz a diferença.

Para a promoção da qualidade do sistema educativo a solução passa por coisas muito simples. Estou a falar de formação contínua de qualidade, avaliação docente séria, organização eficaz e avaliação objectiva das aprendizagens tudo isto aliado a um sistema educativo suficientemente flexível capaz de se adaptar às flutuações do número de alunos, necessidades formativas do país. Parece fácil mas não é.

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