quarta-feira, março 15, 2006

Tensões


São interessantes estes tempos, os que vivemos em Portugal. A educação tem levado de todo o lado. Não faltam opiniões umas mais avulsas que outras. No entanto o sistema de ensino vive o reflexo disso mesmo no seu dia a dia. A falta de orientação é patente no que respeita ao fim educativo da nossa escola.

Essa é talvez a razão pela qual esta ministra tem o apoio da maioria dos portugueses, em vez de liderar a mudança, a escola reflecte cada vez mais o pior da nossa sociedade.

A luta de Nuno Crato é conhecida, meritória e corajosa não sendo necessário ler o seu livro para perceber do que se trata para tomar uma posição. Não li o livro todo mas conheço alguns excertos e vários artigos do autor.

A posição de Nuno Crato é uma referência. Pelo menos para os que conhecendo as especificidades do ensino e aprendizagem da Matemática percebem como este saber se constrói. Conhecendo o que se passa nas nossas escolas fruto de uma reforma insana e que claramente relega para segundo plano ensino das ciências a posição de Nuno Crato não podia ser outra.

Quem assiste todos os dias ao descambar dos nossos alunos percebe as consequências da medidas tomadas e a responsabilidade de teorias e ideias que classifica de românticas.

As reacções dos promotores destas ideias é inerente a posições pouco fundamentadas e reveladoras de alguma insatisfação ( e isto é histórico) face à ciência e à realidade. Refugiam-se estes em mundos obscuros com terminologias que ninguém percebe nem tem a coragem para perguntar o seu significado sob pena de não perceber também a resposta.


A sua luta corre no entanto um risco: de se barricar numa posição que é a sua, construída por si.

Um erro parece-me no entanto ter sido cometido por Nuno Crato, não que discorde totalmente, mas porque é demasiado ousado: falar da educação no seu todo e não se restringir às especificidades da Matemática.

A posição de Nuno Crato é uma reacção à falta de rigor e completo estripamento da função pedagógica: ensinar.

Nela se ressalvam a importância dos seus actores sem no entanto esquecer que se a escola existe deve ter uma função clara. É essa a única forma de avaliarmos o seu sucesso. Nuno Crato afirma que não pode existir aprendizagem se não existir ensino ao contrário da ênfase dada nos vários mundos da educação que têm tendência para ler a frase na ordem inversa. Saber é a chave para melhor promover a aprendizagem e nessa linha a competência científica sobrepõe-se sem margem para dúvida às competências pedagógica.

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