quarta-feira, janeiro 04, 2006

Competências e incompetências - Avaliação III

Os actuais alunos do 10º ano são os primeiros alunos submetidos à actual “reforma” do 3º ciclo do ensino básico. Iniciaram à três anos o seu percurso e são, supostamente, o exemplo de alunos que com sucesso completaram o 9º ano de escolaridade.

Mas afinal o que mudou? Que alterações e novidades contêm o actual ensino básico que o anterior não tinha?

Deverá ser certamente melhor que o anterior ensino básico caso contrário não seria justificável mudar. Assim os resultados deverão ser melhores e isso deverá surgir em avaliações, aferidas de forma independente.

Mas vamos ao que mudou. Fundamentalmente e sem ser exaustivo refiro aquelas que me parecem mais relevantes:

  • Aparecimento de áreas curriculares não disciplinares: Área Projecto, Formação Cívica e Estudo acompanhado
  • Os programas não foram suspensos surgindo um documento designado por “Orientações para o ensino básico” onde surgem as competências essenciais e específicas a desenvolver nos alunos no ao longo do ensino básico e em cada disciplina.
  • Remendo de última hora com a introdução da disciplina de TIC.
  • Documentos normativo-legais sobre a avaliação onde a mais recentemente inovação o “50” completa o rol de papeis em que os professores vivem imersos.

Falei aqui em tempos de esquizofrenia no ensino e volto ao assunto pois ele é a causa de muitas das angústias que os professores vivem sem que disso se apercebam.

O documento supostamente orientador e pomposamente designado por “Orientações para o ensino básico” é um manancial de confusões, lapsos e completamente desorientador. É acima de tudo um documento académico pouco interessante do ponto de vista prático e pouco claro em vários aspectos.

É um documento académico porque os seus autores regurgitam durante várias páginas conceitos e ideias que do ponto de vista teórico poderão ter algum significado mas que do ponto de vista orientador da actividade docente são confusos.

É pouco interessante do ponto de vista prático porque não inclui de forma clara os conteúdos a leccionar sendo vago quanto à sua implementação sugerindo, é verdade várias experiências de aprendizagem mas que muitas vezes requerem conceitos não leccionados nem previstos. Colocando o professor sem saber porque ponta lhe pegar.

O tempo para a leccionação dos programas (os mesmos a nível de conteúdos) é inferior. Qual a chave apresentada? O desenvolvimento de competências.

Existe a ideia subjacente e não explicita de o aluno aprender mais em menos tempo( muitos não dirão mais mas sim melhor). Mais porque apesar de não ter de saber de cor um conjunto de informação consultável saberá pesquisar, gerir e raciocinar sobre a mesma.

É suposto o actual ensino não transformar os alunos em depósitos de matéria mas sim desenvolver as suas competências. As tais dez para o ensino básico e mais umas quantas a nível disciplinar mas sempre com o objectivo de os alunos desenvolverem as fundamentais para o EB.

Desta forma é possível dotar os alunos de capacidades de enfrentar problemas e assim apesar de este não ter “recebido a matéria toda” será capaz de responder uma maior diversidade de problemas.

Tudo isto é muito bonito mas teórico. Na prática o professor necessita de uma maior orientação. Não lhe será difícil implementar umas quantas ideias contidas nas orientações mas conseguirá ele avaliar as ditas competências?

De várias sessões de formação a que assisti todas as sugestões esbarram com a realidade. Mais, duvido que alguém e muito menos os autores consigam encontrar instrumentos adequados a cada uma das competências.

São sugeridos vários métodos é certo mas a construção de uma visão integrada do aluno e visto como um todo não se coaduna com as necessidades politicas de aferir de modo mais concreto as aprendizagens.

É aqui que os professores têm de descalçar uma bota que não pediram e o que o sistema se revela esquizofrénico.

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