sexta-feira, janeiro 13, 2006

2- Avaliação dos professores - Critérios e argumentos

A questão fulcral para os professores surge com os critérios a utilizar. Para o governo a questão passa sobretudo por moralizar o sistema. Assim será natural e na linha do que vem acontecendo noutras áreas onde o governo tem intervido a homogeneização das regras. À cabeça surge de imediato a progressão por cotas e avaliação por mérito. E se uma surge de uma convicção politica orientada por critérios económicos a segunda será orientada por critérios de gestão de recursos humanos numa perspectiva de promover aqueles que melhor se adaptem ao sistema.

Assim e recorrendo à analogia anterior os melhores jumentos comerão a cenoura e jumentos não faltarão.

Se a progressão por quotas é fundamentalmente uma questão económica e politica é de esperar que num futuro mais ou menos distante estas possam ser alteradas. Já no que diz respeito à avaliação dos professores temo que as regras a adoptar ficarão por muito mais tempo. São essas que importa discutir.

Um dos argumentos mais facilmente desmontáveis no que diz respeito à avaliação do professor é que os resultados não são comparáveis. O ministério já mostrou que é possível introduzindo coeficientes de desenvolvimento económico. Esta avaliação surge já com as escolas onde é possível comparar escolas de todo o país com índices de desenvolvimento idênticos. Não mais poderão os professores alegar que os seus alunos são os piores.

Outro argumento comum é o do cadastro do discente. Este argumento alega que os alunos já chegaram ao professor em mau estado e que a culpa foi dos tais colegas que são uma nódoa.

Para quem anda atento já terá reparado que este argumento, para além de vago e muito subjectivo e de nada acrescentar está já desmontado.

Com a introdução dos projectos de escola e fundamentalmente dos projectos curriculares de turma a par de outras medidas como os planos de recuperação os professores e as escolas detêm os instrumentos necessários à correcção de eventuais desvios nas aprendizagens. A gestão, agora mais flexível da componente não lectiva dos docentes servirá também esse fim. Agora que tanto se protesta sobre essas horas extraordinárias não pagas serão nessa perspectiva muito úteis e desejadas por todos quanto desejam efectivamente bons resultados.

Também a estabilidade do corpo docente contribui para a responsabilização dos professores pelos resultados e que agora têm instrumentos legais para promoverem o sucesso se assim o desejarem. E vão desejar.

Os professores têm pela primeira vez a autonomia, embora aparente, de intervir pedagogicamente da forma que entenderem mais adequada à realidade da sua escola. Seria motivo de orgulho não fosse isso imposto da forma que foi passando por cima de direitos. Não falo de benesses, falo de necessidades. Não podem propor medidas conseguidas à custa do horário de trabalho dos docentes. Quem está financiar estas medidas são os docentes não o ministério. Para além de que estas medidas entram em conflito directo com a qualidade que deve ser proporcionada às turmas atribuídas ao docente. As medidas de flexibilização da componente não lectiva do docente contribuem para a degradação das aulas leccionadas na medida em que o tempo de preparação das mesmas ficou reduzido.

2 comentários:

ocontradito disse...

A questão é sempre a mesma. É dificil a avaliação... Então é melhor que não haja nenhuma?
Claro que não.
A hipótese do curriculo do aluno é uma das melhores. Mas para isso são necessários os exames nacionais no 4º, 6º e 9º ano. Para se ter um valor inicial e um valor final. A sua diferença é a mais valia obtida...
Claro que aqui se mantém alguma (ou muita) relatividade. Os pais podem se ter divorciado entretanto, etc, etc...
Mas é melhor alguma medição do que med~ição nenhuma. Alguma avaliação (mesmo que relativa e não ideal) que avaliação nenhuma. E, depois, é bom que não se esqueçam, só progridem (remuneratóriamente) os que apresentam bom trabalho...

Paulo disse...

Evidentemente que é necessário implementar a avaliação de professores. Mas essa avaliação não pode ser baseada em elementos pouco credíveis . É necessário que a avaliação do professor surja integrada no processo de avaliação do sistema como um todo. Não podem existir exames que supostamente avaliam os alunos sem que esta avaliação não tenha consequências reais para os alunos a nível da sua progressão.
E aqui encontramos dois problemas de dificil solução:
1- Levaria à retenção de um maior número de alunos do que actualmente se verifica (ou não)
2- indexar a avaliação dos professores ao desempenho dos alunos só é aceitável se esse processo for realizado a nível nacional o que põe em causa a autonomia das escolas. Mas o ministério já usa esse critério.