sexta-feira, janeiro 13, 2006

4-Avaliação dos professores- Instrumento de opressão

O que se pretende é, dizem, implementar um sistema meritocrático. Quem o irá aferir ? Na função pública o mérito confunde-se com ser servil, não com resultados ou qualidade. E não sendo vidente adivinho uma desregulamentação a nível dos direitos dos docentes. Para além de o número de horas da componente lectiva poder ser já regulada pelos órgãos da escola também as justificações de faltas passarão para a alçada dos conselhos executivos assim como muitos outras competências. Chamo a isto distribuir o chicote.

A avaliação dos órgãos de gestão será feita pelos resultados obtidos dando-lhes os instrumentos necessários à sua obtenção. Segue-se a distribuição das cenouras, digo, das vagas para progressão. Estas serão distribuídas pelas melhores escolas agrupadas com base no índice de desenvolvimento social e dentro destas pelos grupos com melhores resultados.

Até parece que funciona. Mas não se esqueçam que os alunos e os pais, parte essencial deste processo ainda não foram chamados à responsabilidade. Não existem formas de conter a indisciplina que é crescente. Ao professor é-lhe pedido que faça o pino e aos alunos que aprendam de forma espontânea.

As responsabilidades das aprendizagens só podem ser pedidas aos docentes quando a outra parte cumpre o que lhe é devido. Um médico não pode ser acusado de o seu paciente não tomar os medicamentos que prescreveu. Um professor não pode nem consegue impingir programas muitas vezes mal elaborados a alunos que não se assumem como tal.

É aqui que tudo falha, é aqui que nasce a revolta de quem todos os dias vive impotente perante a falta de coragem dos nossos políticos.

O ensino diz-se obrigatório, mas apenas é obrigatória a permanência dos alunos. Não se vislumbra nos governos nem nesta ministra a coragem necessária para impor limitações à obtenção da carta de condução a quem não obtenha com sucesso determinado nível de ensino. Não se impõe o serviço militar tornando-o obrigatório a todos aqueles que não obtenham em idade razoável o ensino básico. Seriam medidas polémicas e exigiriam coragem, verdadeira coragem.

4 comentários:

Miguel Pinto disse...

“As responsabilidades das aprendizagens só podem ser pedidas aos docentes quando a outra parte cumpre o que lhe é devido.”
Entro para um pequeno comentário, embora o assunto e as ideias que o teu texto suscita, mereça muito mais: Como é que nos certificamos que a outra parte cumpre o que lhe é devido? Tenho assistido a prescrições do tipo aspirina: Estudem! E se a falta de estudo não for a causa de todos os males [entenda-se, maus resultados]?

Paulo disse...

Agradeço o comentário e concordo consigo. Coloquei o enfase nas dificuldades dos professores. Penso no entanto que a escola tem sido dotada de instrumentos que deveriam, se realmente funcionassem bem, ajudar os alunos a ultrapassar as suas dificuladades. Falo do estudo acompanhado em particular e do projecto curricular de turma em geral. Aliás a ausência de caminhos alternativos (vias adequadas) para os alunos é que tem conduzido a isto.O ensino massificou-se e embruteceu. Não podemos no entanto escamotear que se pretendemos determinados resultados a alguma complacência existente face à incapacidade de o sistema resolver os problemas (que cria)não os resolve.

IC disse...

Só entenderei uma avaliação de professores formativa, mas receio bem que venha a ser punitiva e então teremos o absurdo de professores de 1ª e professores de 2ª, com as mesmas funções e responsabilidades... ou a responsabilidade de educar-ensinar crianças e jovens passará a poder ser de 1ª e de 2ª?

Paulo disse...

Penso que está à vista que a questão não é tanto se irá existir avaliação mas como se poderá pôr esta ao serviço de um sistema cuja progressão seja baseada no mérito.
Não acredito que um sistema baseado no mérito resolva os problemas da educação em Portugal como já tive oportunidade de espôr. No entanto essa questão é vista pela sociedade em geral como factor de credibilidade e não devemos por isso descartar esse elemento.
A avaliação formativa existe e está já a introduzir efeitos perversos no sistema. Por um lado não serve para a progressão não sendo credível(de acordo com este governo) por não produzir diferenciações com vista a implementação de politicas de progressão baseadas em qualidade.
Esta é a ideia chave "qualidade".