segunda-feira, janeiro 02, 2006

Srª Ministra hoje fui à escola e a Srª?

Hoje fui à escola, estive com os meus alunos. Estive também com mais uns quantos que não sei quem eram já que estive a substituir um outro professor. No intervalo maior fui ao meu correio e encontrei o meu novo horário. Mais horas, menos tempo disponível para os meus alunos. Já não tenho muito tempo para preparar as aulas experimentais é-me quase impossível. Agora vou dar aulas de recuperação a alunos do 8º ano e do 9º ano (niveis que não tinha). Lá terei de preparar mais dois níveis e tenho menos tempo para o fazer. Tenho de dividir o tempo disponível entre os meus alunos e os outros. Já agora os outros são alunos irrecuperáveis. Segundo uma colega minha que ainda hoje fez uma aula de substituição nessa turma, "não consegues fazer nada deles" disse-me, "são malcriados, faladores e não atendem a nada"(**).
Srª ministra não sei o que lhe vai na alma mas suspeito que não deve estar bem consigo própria. Só alguém verdadeiramente amargurada e incapaz é capaz de me impor de forma irracional condições de trabalho que tornam impossível um desempenho satisfatório. Sinto a qualidade do que faço a perigar e descambar para a leveza. Uma leveza não sancionada e até promovida por despacho.
Sinto-me cada vez mais desiludido, oprimido, explorado. Verdadeiramente explorado.
Agora uma questão materialista: estas horas vão ser pagas?
Srª Ministra duma coisa pode ter a certeza nunca pronunciarei o seu nome. A não ser que por despacho me obrigue, pois me sinto já um escravo.
A falta de educação e respeito que todas estas medidas reflectem ofendem-me, ofendem todos aqueles que estudaram e todos os dias procuram dar o seu melhor. A Srª está a maltratar uma classe cuja a formação é superior à maioria dos portugueses transmitindo uma imagem ao pais que será entendida como a desqualificação dos que todos os dias se empenham por formar o melhor que sabem o futuro da nação.
Quem me dera ter um dos seus filhos como aluno dir-lhe-ia o que penso da mãe. Estou certo que ele compreederia as minhas razões e a razão da minha revolta. Afinal ainda acredito nas novas gerações, foi isso que 10 anos de ensino me deram. Quanto a si não sei o que a motiva e a torna tão persecutória, intolerante e cega à realidade, mas esteja certa que o perdão é o caminho. Perdoe a quem lhe fez o que fez e verá com certeza um mundo diferente, mais tolerante e empenhado, professores que diariamente lidam com as dificuldades dos outros sempre com um cunho de esperança, sempre com a boa vontade dos que ainda acreditam.

(**)Relato de uma colega cujo o desabafo aqui retrato.

2 comentários:

Anónimo disse...

Depois de 30 anos de serviço,com grande empenho e dedicação,estou demasiado revoltada e magoada para continuar a ser a mesma professora,como eu centenas de colegas conhecidos...estou triste.

Paulo disse...

Lembremo-nos de uma coisa, a ministra acabará por sair. Depois da tempestade a bonança. Virão outros politicos cheios de ideias e demagogia para motivar os professores essa classe que tanto contribuiu para sair da crise. Assim quero acreditar.